Carlos Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Carlos Rocha
Carlos Rocha
1M

Licenciado em Estudos Portugueses pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, mestre em Linguística pela mesma faculdade e doutor em Linguística, na especialidade de Linguística Histórica, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Professor do ensino secundário, coordenador executivo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, destacado para o efeito pelo Ministério da Educação português.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Como se forma o adjetivo pátrio de um individuo que tem dupla cidadania brasileira e suíça? Seria "brasílico-suíço" ou "braso-suíço"? Como quem tem dupla cidadania entre Portugal e Brasil — «cidadão luso-brasileiro». E entre Brasil e Portugal? "Braso-lusitano"? "Ou brasílico-português"?

Resposta:

Como antepositivo relativo ao Brasil, o Dicionário Houaiss indica três opções:

brasileiro: brasileiro-suíço, brasileiro-português;

brasílico: brasílico-suíço, brasílico-português

brasilobrasilo-suíço, brasilo-português.

Pergunta:

Eu gostaria de saber o que significa c. i. e. em referência de obra de arte, por exemplo:

PANCETTI, José. Autorretrato. 1944. Óleo sobre tela, 46,7 cm x 38,5 cm, c. i. e.

Obrigada.

Resposta:

Trata-se de uma abreviatura usada em galerias e leilões de arte (mais especificamente, pintura), correspondente a «canto inferior esquerdo», em referência ao lugar da assinatura na obra. Pode também aparecer com a forma a. c. i. e., «assinado no canto inferior esquerdo». Também ocorrem as abreviaturas c. i. d., «canto inferior direito», c. s. e., «canto superior esquerdo», c. s. d. «canto superior direito». Recomendo a consulta da lista de abreviaturas constante no sítio do Leilão de Arte Tableau.

Pergunta:

Saudando desde já a vossa disponibilidade, gostaria que me elucidassem sobre o género da palavra "exposalão", no seguinte contexto: «Foram realizadas atividades...»

Resposta:

A palavra não se encontra dicionarizada, mas ocorre em páginas da Internet como nome próprio usado em Portugal para designar um «salão de exposições» particular:

«O futuro constrói-se. É esta a certeza que temos quando olhamos para obras como o Exposalão — Multiusos de Sernancelhe, inaugurado pelo Presidente da República Aníbal Cavaco Silva, no dia 5 de Setembro de 2010.»

Na verdade, este nome deve escrever-se Expossalão, para que o s de salão não soe [z]. Expo- comporta-se como elemento prefixal (um falso prefixo), conforme se encontra noutros nomes atribuídos a equipamentos deste género: Expocasa.

O género da palavra depende, em princípio, do segundo elemento, salão, que é substantivo masculino: «o Expossalão», como se verifica no exemplo acima. No entanto, dado que se trata de nome próprio, aceita-se geralmente o feminino, «a Expossalão», porque se subentendem as palavras «exposição (chamada Expossalão)» ou «feira (chamada Expossalão)», como acontece noutros casos, apesar da existência de um segundo elemento masculino: «a Nauticampo».1

Refira-se também que não fica clara a forma como Expossalão se articula com a expressão «foram realizadas actividades...», mas presume-se que falte a preposição em:  «Foram realizadas actividades no/na Expos...

Pergunta:

A regra de que sujeito oracional deve seguir a concordância na terceira pessoa do singular se aplica no caso de orações relativas livres?

Ex.: «Quem acredita sempre alcança»... (está OK)... Mas «Quem acredita sou eu» parece melhor do que «Quem acredita é eu». Há gramáticas que afirmam que numa frase como «Sou eu quem acredita» o quem manteria uma relação anafórica com eu... Mas eu vejo com reservas o quem como um pronome relativo-anafórico na posição sujeito, pois uma frase igual à que eu vou mencionar, apesar de comum no Brasil, parece deveras estranha: «Ela é a pessoa quem fez isso.» O que me leva a supor que as frases «Sou eu quem acredita» e «Quem acredita sou eu» possuem a mesma estrutura sintática, com a subordinada constituindo um sujeito oracional através de uma oração relativa livre; e como sujeito oracional nessa condição de ser uma oração relativa livre, o verbo da oração principal apresentaria a particularidade de poder concordar com um predicativo. Na verdade, parece-me que o pronome quem introduz orações limítrofes entre a função de sujeito simples e oracional, pois, numa frase como «Aquele que acredita sempre alcança», o sujeito é simples, e só se torna oracional, no caso do uso do quem, justamente porque o quem pode equivaler, por si mesmo, à forma «aquele que».

Agora, apresentando uma frase um pouco diferente de uma anteriormente mencionada, a oração principal dela parece apresentar um atributo — ou predicativo — mas sem um sujeito do ponto de vista sintático: «Sou eu que acredito nisso.» O eu aqui não me parece sujeito e, sim, um atributo semelhante aos que aparecem nas orações sem sujeito que acontecem com o verbo ser. Apesar de que, do ponto de vista lógico (não s...

Resposta:

1. No primeiro dos casos apresentados, deve ter-se em conta que a frase «Quem acredita sou eu» não pode, em termos de concordância verbal, ser analisada como «Quem acredita sempre alcança»: nesta, a oração relativa é sujeito de um verbo usado intransitivamente (alcançar), enquanto aquela constitui uma frase equativa ou identificacional, a qual permite ao verbo da oração subordinante (ser) concordar com o predicativo do sujeito (daí, a gramaticalidade de «Isso são ninharias», apesar de «isso» comportar-se como singular e ter a função de sujeito).

2. O pronome quem só pode ser anafórico, isto é, só pode ter antecedente, se for precedido de preposição (cf. M.ª H. Mira Mateus et al., Gramática da Língua Portuguesa, Lisboa, Editorial Caminho, 2003, pág. 663): «esta é a pessoa de quem te falei». Deste modo, quem não pode ser usado como sujeito ou complemento directo de uma relativa com antecedente: é, portanto, impossível — pelo menos, no âmbito da norma — aceitar sequências como *«Ela é a pessoa quem fez isso» ou «Ela é a pessoa quem encontrei ontem». O pronome quem só pode ser usado como sujeito ou complemento directo de relativas livres, isto é, de relativas sem antecedente expresso: «Quem espera sempre alcança»; «Quem vi ontem no restaurante passou por ti agora».

3. Assinale-se, contudo, que estas orações relativas livres que participam em frases equativas se agrupam com outras construções para entrar naquilo que a descrição linguística designa como construções clivadas. A frase «Sou eu que acredito nisso» é um caso de c...

Pergunta:

Pé-de-moleque é uma palavra derivada, ou primitiva?

Resposta:

A palavra em questão (pé de moleque, à luz do novo acordo) não é derivada, é composta, porque formada por palavras simples (, moleque), e não por radicais ou bases de derivação a que se associam afixos (prefixos e sufixos). Também não é primitiva, visto ser constituída por palavras simples.