Carlos Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Carlos Rocha
Carlos Rocha
1M

Licenciado em Estudos Portugueses pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, mestre em Linguística pela mesma faculdade e doutor em Linguística, na especialidade de Linguística Histórica, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Professor do ensino secundário, coordenador executivo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, destacado para o efeito pelo Ministério da Educação português.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

A palavra pulsar é grave, ou aguda?

Resposta:

A forma pulsar é uma palavra aguda, que corresponde a duas palavras homónimas: pulsar (verbo), «latejar», e pulsar (substantivo), «radioestrela que emite ondas de rádio com a duração média de 35 milionésimos de segundos, que se repetem a intervalos extremamente regulares, de aprox. 1,4 segundos».

Pergunta:

Já há uma resposta semelhante àquela que desejo, mas está incompleta e é muito pouco elucidativa. Bem, gostaria de saber como se pronuncia kiwi. Este w é pronunciado como v? Porque esta pronúncia me causa muita estranheza, assim como o aportuguesamento quivi, que a confirmaria. Ademais, para fins de esclarecimento, a sílaba tônica da palavra é a última, estou certo? Amiúde ouço "quí-ui", em vez de "quiu-í".

Agradeço previamente.

Resposta:

No Brasil, aceitam-se dois aportuguesamentos que reflectem duas maneiras de pronunciar a palavra: quivi e quiuí. Estas formas encontram-se registadas no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (VOLP) da Academia Brasileira de Letras. O Dicionário Houaiss, na sua edição de 2001, ao dar conta da etimologia da palavra, indica que a forma quiuí é mais usada:

ing. kiwi-kiwi, emprt. do maori; o fruto, batizado kiwifruit na Nova Zelândia por seu exterior peludo, integrou-se 1970 no francês com o nome de kiwi, tal como o pássaro que é tb. símbolo da Nova Zelândia, passando a ser assim conhecido no resto do mundo; no Brasil, houve flutuação inicial entre a pronúncia quivi e quiuí; esta última parece haver suplantado a primeira na década de 1990.

Em Portugal, o Vocabulário Ortográfico do Português (ILTEC) só acolhe a forma quivi, o mesmo acontecendo noutro vocabulário ortográfico, o VOLP da Porto Editora, e no dicionário da Academia das Ciências de Lisboa. No entanto, o Dicionário Priberam diverge destas obras de referência, apresentando duas formas, quivi e quiuí. A verdade é que estas grafias representam duas pronúncias frequentes na variedade europeia, podendo até o mesmo falante usar as duas. Sendo assim, embora no Ciberdúvidas já se tenha

Pergunta:

Gostaria de saber qual é a forma correcta. Na frase «Aferição a Português foi muito exigente», deve dizer-se «aferição a» ou «aferição em»? Sendo que se diz normalmente «Prova de aferição de Português».

Já agora, há algum livro ou link que aborde este género de questões?

Obrigada.

Resposta:

Na frase em causa, a expressão «a Português» não é complemento de aferição, isto é, não faz parte da regência da palavra, porque não é seu complemento, antes marca uma informação acessória referente ao contexto onde se faz a aferição. Para se falar de regência a propósito de aferição, teria de existir um complemento introduzido por preposição de, relativo ou ao objecto da aferição ou a quem a faz: «a aferição das notas (pelo ministério)», «a aferição do ministério» (entenda-se: «feita pelo ministério»).

Sendo assim, a expressão «a Português» não faz parte da regência de aferição. Então de que se trata? É um constituinte modificador de aferição. A pergunta é, portanto, sobre a forma desse constituinte.

Ora bem, no português europeu, quando se pretende referir dada situação (normalmente ligada à avaliação) relativa a uma dada disciplina do currículo, diz-se, por exemplo, com a preposição em, «na disciplina de Português» ou «em Português», podendo, informalmente, usar-se também a preposição a — «à disciplina de Português» ou «a Português» («teve negativa em/a Português»).

Como disse, a questão não tem que ver com regências, mas sobre o assunto poderá ler a resposta Sobre dicionários de verbos.

Pergunta:

No português de Lisboa, no caso das palavras em singular que acabam em -el (p. ex., papel, fiel, mel), como se devem pronunciar correctamente seus plurais? Como "-éis", ou como "-âis"?

Muito obrigado pela ajuda.

Resposta:

As descrições que têm por objecto a pronúncia-padrão das camadas cultas da população portuguesa do chamado eixo Lisboa-Coimbra indicam que esses plurais têm é aberto: papéis [pɐˈpɛjʃ] (cf. M.ª H. Mira Mateus et al., Gramática da Língua Portuguesa, Lisboa, Editorial Caminho, 2003, pág. 994); hotéis [oˈtɛjʃ] (cf. M.ª H. Mira Mateus, "Distribuição das vogais e das consoantes do português europeu", A Pronúncia do Português Europeu). Sendo assim, seria também de supor fiéis [fjɛjʃ] e méis [mɛjʃ].1

No entanto, parece tratar-se de uma pronúncia de falantes mais velhos, porque a maioria dos mais novos articula esses plurais com o mesmo ditongo que se ouve em maneira, ou seja, com "âi": [pɐˈpɐjʃ], [fjɐjʃ], [mɐjʃ]. Não há, portanto diferença entre papéis e papeis (papar).

Trata-se de uma mudança de que muitos falantes não se dão conta, e que, portanto, nem sequer aparece mencionada em listas de erros de feição mais tradicional. Mas convém ler o que diz António Emiliano, em Fonética do Português Europeu: Descrição e Transcrição (Lisboa, Guimarães Editores, 2009, pág. 290):

No português europeu padrão este ditongo — que ocorria em formas nominais terminadas graficamente em -éis e em palavras de origem grega como ideia — fundiu-se com [ɐi̯] na língua culta da segunda metade do século XX, estando actualmente o uso de [ɛi̯] confinado a camadas...

Pergunta:

A propósito do bruaá à volta do termo empregado, numa entrevista à SIC Notícias, do responsável do programa eleitoral do PSD, Eduardo Catroga, gostava de saber:

1) Como classificar a palavra pentelho? Calão? Mera vulgaridade, ou é mesmo uma obscenidade?

2) Qual a sua origem?

Os meus agradecimentos.

Resposta:

1) A palavra (ou palavrão) pentelho, geralmente «pêlo púbico ou pubiano», mas também «qualquer coisa pequena ou de escassa importância, sem valor» (José Pedro Machado, Grande Dicionário da Língua Portuguesa, Lisboa, Círculo de Leitores, 1991),1 vem classificada de várias formas, conforme o dicionário consultado:

— O Grande Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora (edição de 2010) classifica pentelho como vulgarismo.

— Em Machado (op. cit.), uma marca de uso indica que é vocábulo chulo, isto é, «grosseiro, baixo, rústico» (ibidem).

— No Dicionário Priberam da Língua Portuguesa, a palavra aparece atribuída ao calão, que, em Portugal, é designação aplicada à linguagem grosseira ou rude (idem, s.v. calão).

— No Dicionário Houaiss, o vocábulo surge como tabuísmo, entendendo-se este termo como «palavra, locução ou acepção tabus, consideradas chulas, grosseiras ou ofensivas demais na maioria dos contextos [São os chamados palavrões e afins, e referem-se ger. ao metabolismo (cagar, mijar, merda), aos órgãos e funções sexuais (caralho, pica, boceta, vulva, colhão,