Pergunta:
Agradeço a gentileza de me esclarecerem acerca de seguinte: ontem, durante a emissão de um programa realizado em Bragança, terra de fragas e fraguedos, a apresentadora Fátima Campos Ferreira, ao caraterizar a morfologia desta zona do país, referiu as «fráguas» deste «reino maravilhoso», em vez de «fragas». Conheço aquele termo desde os meus longínquos 16 anos, quando topei com ele no teatro vicentino. Para meu espanto, o Dicionário Houaiss apresenta frágua também com o valor de fraga. Tendo estas duas palavras origem tão diferenciada, como se pode explicar que se equivalham? Bem sei que a língua tem destas coisas... Mas a apresentadora não o disse apenas uma vez, e pareceu-me muito convicta. Preciosismo?
Bem hajam.
Resposta:
Recomendo, por razões etimológicas, o uso de fraga, para designar penedos ou conjuntos rochosos, mas não me parece que frágua seja claro erro de expressão.
O Dicionário Houaiss apresenta efetivamente a forma frágua como equivalente a fraga, que tem o seguinte comentário etimológico: «segundo Corominas, depreendido do adj[etivo] lat[ino] fragōsus, a, um, "áspero, escarpado, rochoso", registra-se no lat[im] h[i]sp[ânico] o subst[antivo] fragum, "local ou terreno de rochas e penhascos" (cf. cat[alão] e prov[en]ç[al] frau ou afrau "id."), de cujo pl[ural] fraga procede o port[uguês] e gal[e]g[o] fraga, "terreno escarpado e rochoso, penhasco, rocha".» Note-se, porém, que a variante frágua recebe, no dicionário em referência, uma nota etimológica que a remete para um homónimo, frágua, no sentido de «fornalha de ferreiro; forja» e, por extensão de sentido, «ardor, calor; fogo», cuja etimologia remonta a «lat. fabrĭca, ae, "oficina de ferreiro", segundo [Antenor] Nascentes através das f[ormas] *favrega, fravega (arc.), *fragova». É, pois, provável que frágua, como variante de fraga, seja o resultado da extensão semântica do homónimo frágua, «forja», talvez motivada pela semelhança fónica (paronímia) entre frágua e fraga.