Carlos Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Carlos Rocha
Carlos Rocha
1M

Licenciado em Estudos Portugueses pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, mestre em Linguística pela mesma faculdade e doutor em Linguística, na especialidade de Linguística Histórica, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Professor do ensino secundário, coordenador executivo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, destacado para o efeito pelo Ministério da Educação português.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Estou fazendo um trabalho de tradução comparada na faculdade, e deparei-me com a seguinte passagem: «... and she confronted the nurse about the missing checks and the unexplained charges to her bank account.» [Esta foi] traduzida da seguinte forma: «... e confrontou a enfermeira sobre os cheques desaparecidos e os saques injustificados em sua conta-corrente.» A meu ver, em português, o verbo confrontar não condiz com a oração, ainda mais sendo usado com a preposição sobre. Porém, não estou bem certa sobre qual seria o verbo e/ou a preposição adequada.

Grata pela ajuda.

Resposta:

O verbo confrontar rege a preposição com e, na aceção de  «ver-se obrigado a lidar com uma situação indesejável por não a poder evitar; fazer frente a uma tarefa, um problema, uma dificuldade» (dicionário da Academia das Ciências de Lisboa), usa-se com o pronome se (confrontar-se) ou admite uma construção de caráter passivo (ex.: «nunca antes se vira confrontado com tal problema», idem). Este uso parece pressupor a possibilidade de o verbo ocorrer na voz ativa («alguém confronta alguém com algumas coisa»), assim legitimando as seguintes frases:  «...confrontou a enfermeira com o desaparecimento de cheques e dos saques...» ou  «...confrontou a enfermeira com o facto de haver cheques desaparecidos e saques injustificados [ou: inexplicados] na sua conta bancária».

Contudo, há quem sustente que o emprego de confrontar em tais frases reflete a simples transposição semântica do inglês to confront e não é de recomendar, pelo que, em seu lugar, devem ser usados outros verbos, com outras construções: «...e interrogou a enfermeira/pediu satisfações/explicações à enfermeira sobre os cheques desaparecidos e os saques injustificados em/na sua conta corrente» (exemplos do consultor Luciano Eduardo de Oliveira).

Pergunta:

Poderia me ajudar com uma dúvida que há dias me atormenta, e não encontro resposta em lugar nenhum? A forma correta de se dizer é: «O funcionário está "ciente de que" não há resposta da solicitação», ou «..."ciente que"...»? Poderia me explicar gramaticamente? Trabalho com esta frase diariamente e, na minha opinião, o correto é "ciente de que", mas não estou certa e não consigo resposta em nenhum livro ou site

Muito obrigada!

Resposta:

O adjetivo ciente é usado com a preposição de, logo, quando seleciona uma oração completiva introduzida pela conjunção que, deve vir acompanhado da referida preposição; p. ex.: «ele está ciente de que aconteceu qualquer coisa.»

Pergunta:

Gostaria de saber se um produto de manganês é manganífero, ou manganesífero

Obrigada.

Resposta:

As duas palavras estão corretas e são sinónimas, conforme indica o Dicionário Houaiss: «manganífero: que contém ou produz manganês; manganesífero»; «manganesífero: m. q. manganífero». Também o Portal da Língua regista as duas variantes.

Pergunta:

É correcto empregar, como diminutivo do nome próprio Ana, a expressão Anina (como se usa nos Açores), ou deverá ser Aninha ou Aninhas? Afinal, também se diz pequenina, como diminutivo de pequena, por exemplo. 

Muito obrigada!

Resposta:

É correto, na medida em que se trata de uma variante do hipocorístico Aninha. Dado tratar-se de uma forma própria do ambiente familiar, não se pode esperar que se imponham preceitos rígidos de correção linguística que excluam a possibilidade de variantes, que podem ter justificação histórica. Em português, os sufixos diminutivos mais generalizados são -inho ou -zinho, mas, como observa a consulente, o primeiro conhece uma variante talvez mais arcaica, -ino, nas formas pequenino e menino. A forma Anina pode perfeitamente corresponder à sobrevivência da forma -ino e -ina noutros contextos.

Pergunta:

Em relação às palavras fagulha e faúlha, gostaria de pedir alguns esclarecimentos adicionais sobre o seu significado preciso. Isto porque em alguns dicionários os termos são apresentados como sinónimos e noutros são diferenciados quanto à substância da qual se desprendem (ex.: matéria em combustão ou farinha). São estas palavras sinónimas?

Resposta:

Como designação de «partícula que se liberta de um corpo incandescente e que pode originar fogo», a palavra em questão tem as seguintes variantes: fagulha, faúlha (cf. dicionário da Academia das Ciências de Lisboa, Dicionário da Língua Portuguesa, da Porto Editora) e faúla (Dicionário Houaiss, Dicionário da Língua Portuguesa, da Porto Editora).
Como designação de «pó muito ténue que se eleva, quando se peneira ou se mói a farinha», os dicionários só registam faúlha (e, depreende-se, a variante faúla, uma vez que remetem esta forma para faúlha).