Carlos Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Carlos Rocha
Carlos Rocha
1M

Licenciado em Estudos Portugueses pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, mestre em Linguística pela mesma faculdade e doutor em Linguística, na especialidade de Linguística Histórica, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Professor do ensino secundário, coordenador executivo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, destacado para o efeito pelo Ministério da Educação português.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Apresento aqui uma resposta à pergunta sobre curibeca.

Em Angola, e ainda no período colonial, esta palavra designava a maçonaria. Já naquela altura se grafava kuribeka, e realço a letra k. Claro que oficialmente não existia a letra k, mas como a palavra tem origem banta não era estranho.

O mesmo se passava com jinguba («amendoim»), com origem no idioma kimbundu e que, pelas regras portuguesas se escreve ginguba.Qual a língua nacional angolana que deu origem ao nome eu não tenho a certeza. Tanto pode ser o umbundu como o kimbundu.

Eu sou do sudoeste de Angola onde o umbundu tem alguma influência. Sendo assim é possível a sua origem no umbundu?

Agora, e com toda a certeza, estamos perante uma palavra de origem banta e não de origem incerta, duvidosa ou obscura. Os etimologistas devem confessar a sua ignorância quando não sabem. Este tipo de atitude soa, um tanto a racismo etimológico.

Obrigado!

Resposta:

Agradece-se o comentário do consulente.

As notas etimológicas dos dicionários que as incluem (p. ex., Dicionário Houaiss) apresentam a expressão «origem obscura» associada a uma palavra cuja etimologia precisa não é possível determinar.

É muito raro que nessas notas etimológicas se refira a família linguística onde uma dada palavra se enquadra. Por exemplo, não se costuma indicar que uma palavra vem da família indo-europeia, afro-asiática ou banta. O que é frequente é indicar uma língua ou um ramo linguístico mais concretos.

Quando não há dados que permitam identificar o ramo concreto ou a língua exata donde provém o étimo da palavra, emprega-se a expressão «origem obscura», que se aplica a palavras usadas por qualquer grupo étnico, desde as populações de África aos povos da Europa, passando pela Ásia, Américas e Oceânia.

Pergunta:

Como funciona a dupla grafia de láctico ~ lático segundo o Acordo Ortográfico de 1990?

Qual(is) variantes são usadas no Brasil, e qual(is) o são em Portugal?

Já se falou aqui no Ciberdúvidas da diferença entre óptico e ótico, que causa confusão no Brasil – e esta é outra dúvida que nada na internet parece sanar.

Acho que já vi ambas formas aqui no Brasil.

Obrigado!

Resposta:

Pela consulta de dicionários atualizados tanto do Brasil como de Portugal, ambas as formas têm registo e com o mesmo uso.

Os dicionários dão primazia à forma láctico, remetendo para esta a forma sem c, lático.

Fontes: dicionário da Academia das Ciências de LisboaInfopédia e Dicionário Houaiss

Pergunta:

Etimologicamente falando, de onde vem a palavra boboca mesmo?

Muitíssimo obrigado e um grande abraço!

Resposta:

É palavra derivada de bobo, a que se junta o sufixo -oca, que tem muitas vezes valor pejorativo.

Sobre o sufixo -oca, lê-se no Dicionário Houaiss:

«ocorre como diminutivo (às vezes, como aumentativo não raro com valor afetivo, às vezes com valor pejorativo), quase sempre no feminino, não raro como comum de dois e, quando não, como feminino de -oco /ô/, isto é, com metafonia; trata-se, pois, de sufixo, desenvolvido provavelmente no vernáculo, num sistema geral com variação da primeira vogal (na base -ico/-ica) [...].»

Sobre -oco, lê-se ainda na mesma fonte:

«provavelmente hispânico, -occus, que Corominas chama despectivo e que em português do Brasil parece ter sofrido certa influência da terminação -oca /ó/ tupi, de gênero feminino ou comum de dois (boçoroca, caboroca, capororoca, cariboca, carioca, cocoroca, corcoroca, coroca, curiboca, gapororoca, ibiboboca, ibiboca, ibirapiroca, japiaçoca, jipioca, maçaroca, mandioca, minhoca, muriçoca, pacoca, paçoca, piraboca, pororoca, sapiroca, soroca, sororoca, taioca, tapioca, voçoroca); nuns casos, a metafonia corresponde aos gêneros masculino e femino, mesmo formais (barroco/barroca, bicharoco/bicharoca, bichoco/bichoca, choco/choca, dorminhoco/dorminhoca, maçaroco/maçaroca, passaroco/passaroca, pipoco/pipoca, pitoco/pitoca, taloco/taloca, toco/toca, troco/troca), noutros casos, desenvolve-se, modernamente, no Brasil, certa conotação diminutivo-depreciativa ou afim, normalmente no feminino, mas ocasionalmente comum de dois gê...

Pergunta:

Não sei se há um nome específico em Portugal, mas, no Brasil, o profissional que fabrica e conserta violões (e outros instrumentos de corda) chama-se luthier.

Em consulta ao VOLP, não há correspondência para as palavras luthier, lutier, luteiro etc. Qual seria a melhor palavra atualmente na língua portuguesa para designar esse profissional?

No Brasil, violeiro geralmente se usa para o profissional que toca o instrumento viola.

Dever-se-ia, portanto, usar a palavra luthier em itálico (para textos eletrônicos) e entre aspas (para textos manuscritos) por não haver sido recepcionado ainda à língua portuguesa?

Resposta:

O termo luthier é também usado em Portugal, como estrangeirismo, o que leva a que, na escrita, apareça em itálico – cf. Infopédia. É o termo mais comum, entre falantes de português, para designar um profissional que fabrica ou conserta instrumentos de corda com caixa de ressonância (cf. Dicionário Houaiss).

Em dicionários portugueses, também se registam, como sinónimos, o aportuguesamento luteiro (dicionário da Academia das Ciências de Lisboa), bem como violeiro e guitarreiro (Infopedia).

Pergunta:

Sempre tive esta curiosidade, mas nunca a consegui desvendar. Como se chamam os laços que complementam alguns fatos de gala masculinos?

Tal como o casaco, não encontrei um nome apropriado em Portugal, embora no Brasil se designem por: paletó e gravata-borboleta respetivamente.

Se reparamos, muitos países possuem uma designação própria no que se refere ao laço. Seja o nœud papillon francês, a pajarita espanhola, ou o bow tie no meu idioma, como se pode ver, esse termo existe.

Assim sendo, gostaria de saber se existe ou não em Portugal. Se não existir, até que ponto se pode usar uma designação brasileira num texto meramente lusitano? Entre aspas?

Obrigada!

Resposta:

O termo existente em Portugal é laço ou, mais informalmente, lacinho.

Encontra-se registo deste uso de laço na Infopédia: «2. acessório de vestuário que consiste numa tira de tecido que passa por baixo do colarinho e termina com um nó próprio, ficando com as duas pontas iguais, achatadas e uma para cada lado; Brasil gravata-borboleta, gravatinha

Do dicionário da Academia das Ciências de Lisboa também consta este uso de laço: «3. acessório do vestuário masculino que consiste numa faixa, geralmente de tecido, em forma de laço, que se coloca como uma gravata, sobre a junção do colarinho – usar laço; pôr laço. "Os empregados do restaurante usavam camisa branca e laço preto".»