Carlos Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Carlos Rocha
Carlos Rocha
1M

Licenciado em Estudos Portugueses pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, mestre em Linguística pela mesma faculdade e doutor em Linguística, na especialidade de Linguística Histórica, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Professor do ensino secundário, coordenador executivo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, destacado para o efeito pelo Ministério da Educação português.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Diz-se «camarões ao molho de languedoc», ou «camarões ao molho de Languedoc»?

Obrigado.

Resposta:

Dado Languedoc ser o nome de uma região do Sul da França e a expressão «molho de Languedoc» não exigir hífenes, deve escrever-se este nome com maiúscula inicial.

Observe-se que se recomenda o uso de artigo definido com Languedoc: «o Languedoc» (cf. Dicionário Houaiss, s. v. "languedociano"; destaque nosso):

«[languedociano] diz-se da região francesa do Languedoc ou o que é seu natural ou habitante.»

Pergunta:

Como se diz: "matabicho" (ou será com hífen?), ou "pequeno-almoço"? E também: "matabichar", ou "almoçar"?

Longa vida ao Ciberdúvidas.

Resposta:

Usa-se pequeno-almoço em Portugal, café da manhã no Brasil e mata-bicho (com hífen) em Angola (cf. Clenir Louceiro, Emília Ferreira e Elizabeth Ceita Vera Cruz, 7 Vozes, Lisboa, Lidel, 1997).¹

Quanto ao verbo que significa «tomar o mata-bicho», ou «tomar o pequeno-almoço/café da manhã», registam-se duas grafias: mata-bichar (Vocabulário Ortográfico do Português, do ILTEC) e matabichar (Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Porto Editora, e Dicionário Houaiss). Óscar Ribas usa a forma sem hífen, matabichar, na definição da entrada matar o bicho no Dicionário de Angolanismos (Guimarães, Editora Contemporânea, 1997):

«Matar o bicho, l[ocução] v[erbal]: Tomar a primeira refeição da manhã. Comer o pequeno-almoço. O mesmo que matabichar.

F[orma] port[uguesa]»

¹ Na obra consultada escreve-se "matabicho", mas é preferível mata-bicho, mantendo preceitos ortográficos que o acordo de 1990 não alterou. Este substantivo também se regista no português da Guiné-Bissau, no de Moçambique e no de São Tomé e Príncipe.

N.E. − Sobre a expressão matar o bicho e...

Pergunta:

Joado equivale a «assanhado», «teimoso»? O termo em causa existe?

Grato.

Resposta:

Escreve-se juado o adjetivo em questão, conforme o registo de Óscar Ribas no seu Dicionário de Regionalismos Angolanos (Guimarães, Contemporânea Editora, 1997):

«Juado, adj. Que procede aereamente. Que esquece facilmente o que se lhe diz. Irreflectido. Insensato.

Do quimb[undo] kujuuala»*

* Manteve-se a ortografia original.

Pergunta:

Deve dizer-se «nostalgia do passado», ou «nostalgia pelo passado»?

Obrigado.

Resposta:

Recomenda-se o uso do substantivo nostalgia com a preposição de: «nostalgia do passado». Esta é, de resto, a preposição que ocorre nas abonações deste substantivo no Dicionário Houaiss e no dicionário da Academia das Ciências de Lisboa, bem como no Dicionário de Regimes de Substantivos e Adjetivos, de Ferreira Fernandes (São Paulo, Editora Globo, 1995).

Pergunta:

Qual o certo: "duzentos" ou "dozentos"? "Dozentos" vem de «dois centos», dois não pode ter "u" no lugar do" o". Logo: "dozentos", em vez de "duzentos".

Certo?

Resposta:

Errado. O numeral duzentos não deriva diretamente de dois. Na verdade, o u de duzentos deve-se a razões etimológicas: «lat. ducenti, ae, a ´duzentos´» (Dicionário Houaiss).