Pergunta:
Por que escrevem o nome dessa cidade fluminense com y? Segundo o novo acordo, as letras k, w e y continuam com restrição de uso. Creio que o certo é escrever Parati e não "Paraty". O próprio apêndice onomástico do Dicionário Caldas Aulete (1958) traz Parati. Parece-me que hoje cada um escreve como quer, como se não valessem nada as normas da língua. Escrever "Paraty" é, de acordo com meu entendimento, um retrocesso linguístico, da mesma forma que a bizarra escrita Bahia. Qual é a opinião do Ciberdúvidas?
Resposta:
A forma deveria ser Parati, mas há de facto a tradição de escrever Paraty, de que os paratienses parecem muito ciosos. Note-se que na norma ortográfica que esteve em vigor no Brasil até 2009, ou seja, no Formulário Ortográfico de 1943 (FO43), se estipulava que os nomes locativos, entre os quais se incluem os topónimos, se sujeitavam às mesmas regras que os nomes comuns (XI, 39): no entanto, ao mesmo tempo, abria-se a possibilidade de certos topónimos verem aceites formas gráficas consagradas pela tradição (XI, 42):
«Os topônimos de tradição histórica secular não sofrem alteração alguma na sua grafia, quando já esteja consagrada pelo consenso diuturno dos brasileiros. Sirva de exemplo o topônimo Bahia, que conservará esta forma quando se aplicar em referência ao estado e à cidade que têm esse nome.»
Esta disposição não se aplicava a derivados, pelo que os respetivos gentílicos seguiam as regras gerais: baiano, paratiense (tal como se escreve atualmente).
Parati/Paraty tem sido um caso enquadrável nesta exceção, em resultado de certos acontecimentos ocorridos nos anos 40, segundo relato disponível no sítio Paraty.tur.br, que defende a posição segundo a qual a grafia Parati é incorreta, porque, no contexto da já citada secção XI, 42 do FO43, tornava-se legítimo continuar a escever Paraty, forma que remontava à transcrição de parati, em tupi o mesmo que «água do peixe (chamado) parati», como Paraty por parte dos evangelizadores jesuítas do século XVI.