Carlos Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Carlos Rocha
Carlos Rocha
1M

Licenciado em Estudos Portugueses pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, mestre em Linguística pela mesma faculdade e doutor em Linguística, na especialidade de Linguística Histórica, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Professor do ensino secundário, coordenador executivo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, destacado para o efeito pelo Ministério da Educação português.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

O que é um substantivo comum?

Resposta:

Segundo o Dicionário Houaiss, um substantivo comum é «aquele com que se denominam classes de seres ou coisas associados por sua essência, envolvendo sua significação, portanto, um conjunto constante de propriedades essenciais à sua classe (p. ex., mesa, verme, cachorro, preocupação, sentimento) [Algumas classes são formadas de um único elemento, como papa, janeiro, domingo etc.».

Em suma, é uma palavra que designa um tipo de objeto, animal, pessoa ou ideia, enfim, de qualquer realidade, concreta, abstrata ou imaginária, atual ou potencial.

Pergunta:

Gostaria que me esclarecessem em que circunstâncias a palavra certamente é advérbio de afirmação e não de frase.

Surgiu-me a dúvida na seguinte frase, «Dobra o papel com cuidado, certamente vais conseguir», que eu considero de frase, mas que outras pessoas consideram de afirmação.

Agradeço a atenção.

Resposta:

O advérbio certamente pode ser um advérbio de frase (i) e um advérbio de afirmação (ii):

(i) «Certamente nossos pais eram também ferozes, de tremenda força...» (E. Queirós, Contos);

(ii) «Foi para os Olivais? Foi ter com ela? Certamente, pelo menos mandara a tipoia à quinta do Craft»

(exemplos de Clara Amorim e Catarina Sousa, Gramática da Língua Portuguesa, Areal Editores, 2011, pp. 207 e 210).

O caso em questão é o mesmo de (i), e, portanto, certamente ocorre aí como advérbio de frase.

Sobre (ii), convém observar que é discutível considerar certamente como um advérbio de afirmação. Com efeito, João Costa, em O Advérbio em Português Europeu (Colibri, 2008, p. 74), adverte que certamente, efetivamente e decerto não são verdadeiros marcadores de polaridade (isto é, do valor afirmativo ou negativo de um enunciado), porque podem ocorrer em frases negativas:

(iii) «Certamente o João não saiu.»

Além disso, é de assinalar que, na recente Gramática do Português (Fundação Calouste Gulbenkian, 2013, pp. 1675-1678, vol. I), apenas se refere sim como advérbio de afirmação, ficando a descrição de certamente integrada na dos advérbios avaliativos (idem, pp. 1661/1662).

Pergunta:

"Cúpido" ou "cupido": qual a forma correcta? Ou as duas palavras existem com significados diferentes?

Resposta:

Trata-se de palavras diferentes (Dicionário Houaiss):

cupido, substantivo: «deus do amor (para os gregos, Eros), representado geralmente com asas, às vezes de olhos vendados, e provido de arco e flechas, para acertar os corações» (com maiúscula); «qualquer dos gênios infantis e alados que aparecem junto de Vênus e Cupido ou são representados nas belas-artes romanas, renascentistas, barrocas» (com maiúsculas); «a personificação do amor; o amor»; «homem pretensamente bonito e dado ao galanteio, à sedução»;

cúpido, adjetivo: «tomado por intenso desejo; sequioso, ávido». Ex.: «devorou-a com olhos cúpidos»; «que demonstra cobiça material; cobiçoso, ambicioso (de dinheiro, de bens materiais». Ex.: «Funcionários cúpidos saquearam o patrimônio.»

Pergunta:

O que é orografia?

Resposta:

O termo orografia significa a «descrição das montanhas (fronteiras, altura etc.) por meio de instrumento técnico adequado» (Dicionário Houaiss).

 

N.E. – (9/08/2017) "Orografia do terreno" ou "orografia montanhosa" são duas expressões redundantes muito comuns nas notícias sobre catástrofes ou incêndios florestais, por exemplo. No primeiro caso, se o vocábulo orografia já supõe a ideia de terreno, é dispensável a  sua repetição — bastando, por isso, o uso somente do substantivo orografia. E, no segundo caso, se orografia está usada como sinónimo de «terreno», é preferível, então, a  opção pela própria palavra terreno, «terreno montanhoso». O mesmo ocorre com o castelhano, como especifica esta recomendação da Fundação para o Espanhol Urgente (Fundéu), com exemplos ilustrativos: "Orografia del terreno: exprésion redundante".

Pergunta:

A minha questão é se o vocábulo coadjuvância existe, porque é utilizado durante o período de exames nas escolas secundárias, inclusive em documentos oficiais, mas não o encontro em nenhum dicionário.

Obrigado.

Resposta:

Os dicionários gerais não registam coadjuvância – consignam apenas coadjuvação como substantivo relacionado com coadjuvar e coadjuvante.

No entanto, a palavra coadjuvância tem visto expandir-se o seu uso em certos meios profissionais, em especial no ensino, e a própria legislação publicada em Portugal já adotou o termo. No contexto administrativo, impôs-se, portanto, o uso de coadjuvância com um significado próprio: «situação de quem exerce as funções/o papel de coadjuvante». Noutros contextos, o termo não se recomenda, e é preferível empregar coadjuvação, como os dicionários registam.