Pergunta:
Gostaria de ouvir a vossa opinião sobre um assunto sobre o qual ainda não estou segura da decisão para que me inclino. A palavra português ou portuguesa tanto se refere a uma pessoa natural de Portugal como respeita a algo relativo ou pertencente a Portugal. Assim sendo, «aquacultura portuguesa» ou «pesca portuguesa» tanto significa uma atividade desempenhada por portugueses como uma atividade que decorre em território português? Seguramente? Então e se se tratar de pesca ou aquacultura en território português mas da responsabilidade de um estrangeiro? São estas dúvidas que me impedem de decidir definitivamente no trabalho que estou a fazer de identificação dos assuntos tratados em livros (indexação), isto é, preferia optar por «aquacultura portuguesa», «pesca portuguesa» e muitos outros casos que surgem, por uma questão de simplicidade, mas não será mais correto ficar «pesca portuguesa» para a atividade conduzida por portugueses, seja em águas portuguesas, seja no estrangeiro – ficando a região estrangeira identificada – e «pesca em Portugal» para salvaguardar casos de pescadores estrangeiros que possam vir para cá? Claro que também poderia ficar «pesca portuguesa», mas, se se tratasse de uma atividade conduzida em Portugal por pescadores estrangeiros, os termos seriam seguidos por algo como «pescadores estrangeiros» e «ingleses», por exemplo. Eu prefiro esta última hipótese, por questões de simplificação, mas se tal, linguisticamente, não estiver correto, claro que tenho de optar pela outra opinião. A minha indecisão não tem que ver com regras de indexação, é uma questão linguística! Podem ajudar-me?
E o mesmo desconforto se aplica a Cascais. «Praias cascalenses», «praias de Cascais» ou «praias em Cascais», por exemplo? E qual é a diferença entre dizer «de Cascais» ou «em Cascais» – o significado é o mesmo? As expressões são todas corretas e é apenas um...
Resposta:
1 – A pergunta feita não é estritamente linguística, antes dizendo respeito à adequação do significado das palavras ao referente do discurso. O adjetivo pátrio português significa «pertencente ou relativo a esse indivíduo, à sua língua, a Portugal ou ao seu povo», definição que pode legitimar interpretações que podem ir no sentido de considerar português o que quer que aconteça em Portugal. Por outras palavras, os adjetivos relativos a nacionalidade ou pertença a uma região (adjetivos pátrios e gentílicos – cf. Celso Cunha e Lindley Cintra, Nova Gramática do Português Contemporâneo, 1984, págs. 250/251) tanto remetem para um território como para as comunidades que aí se organizaram ao longo do tempo. Sendo assim, por uma questão de clareza, parece-nos coerente o critério que propõe, ou seja, reservar o adjetivo português para qualificar atividades desenvolvidas por portugueses, mas empregar «em Portugal» quando se trata de uma atividade levada a cabo em Portugal por cidadãos não portugueses.
2 – O mesmo se diga em relação ao uso do gentílico de Cascais, cascalense. Mas em relação a praias, a diferença entre «praias cascalenses», «praias de Cascais» e «praias em Cascais» é mínima, muito embora as duas primeiras expressões tenham uma relação de sinonímia mais estreita («praias que são de Cascais», por exemplo, do ponto de vista administrativo), aplicando-se a terceira, «praias em Cascais», a situações de comunicação em que se pretende relevar o facto de haver praias de Cascais, e não a relação (de posse ou domínio administrativo) entre essas praias e Cascais.
3 – Não conhecíamos o critério a que a consulente se refere, segundo o qual se considera ou considerava que adjetivos pátrios ou gentílicos só poderiam aplicar-se a seres humanos. Talvez se trate de um critério apenas adotado no âmbito das ciênc...