Pergunta:
Há anos venho ouvindo um certo "jargão" utilizado para referir-se a diferenças de saldos, conforme abaixo:
«Olá, você poderia me explicar porque essa fatura de 100 está com saldo de 110 antes do ajuste?
Analista responde:
Ô, sim, me desculpe, é que eu errei e fiz um lançamento A MAIOR do valor original de 100.»
«Olá, você poderia me explicar porque essa fatura de 100 está com saldo de 90 antes do ajuste?
Analista responde:
Ô, sim, me desculpe, é que eu errei e fiz um lançamento A MENOR do valor original de 100.»
Gostaria de saber se essa expressão utilizada de «a maior» e «a menor» está correta, porque sempre dói em meus ouvidos quando ouço as pessoas falando isso. No entanto, ouço dos mais altos cargos, como diretores, gerentes e controllers, que utilizam sem nenhuma censura tal expressão.
Agradeço a atenção e fico no aguardo para um possível esclarecimento.
Resposta:
Não há consenso quanto à aceitabilidade das locuções «a maior» e «a menor», que são locuções atestadas apenas no português do Brasil. O Dicionário Houaiss (1.ª edição brasileira, de 2001) regista-as como subentradas, respetivamente, de "maior" e "menor", com os seguintes significados: «a maior»: «[o] mesmo que "a mais"»; «a menor»: «em quantidade, qualidade ou teor inferior (ao esperado); a menos, de menos. Ex.: trouxe três artigos a menor do que lhe fora encomendado.»
Refira-se que o dicionário em apreço consigna tais expressões sem lhes juntar comentários, do que se depreende que as considera corretas.
No entanto, Maria Helena de Moura Neves, no seu Guia de Uso do Português – Confrontando regras e usos (São Paulo, Editora UNESP, 2002), considera que não se justifica o emprego das duas expressões em lugar de «a mais» e «a menos», mas não adianta explicações.
Tudo isto sugere que, para os mais zelosos da tradição linguística, é melhor evitar as expressões em causa. Mesmo assim, não se poderá dizer que «a maior» e «a menor» sejam usos incorretos, visto a sua dicionarização mostrar que se tornaram hoje aceitáveis. Observe-se, por último, que estas expressões são desconhecidas em Portugal, onde se usa comummente «a mais» e «a menos». Mantém-se, portanto, atual uma resposta de José Neves Henriques (1916-2008), que ilustrou bem esse facto em 2000.
Cf.: «