Pergunta:
Relativamente à variação dos ditongos ou/oi, presente em palavras como ouro/oiro, poder-se-á afirmar que o ditongo oi é de cunho popular?
Obrigado.
Resposta:
Embora possa atribuir-se a muitas formas com oi certo caráter popular, deve assinalar-se que este ditongo chega a tomar o lugar de ou na norma culta. Por exemplo, as formas dous e cousa passaram a dois e coisa, respetivamente, tanto nos usos correntes como nos registos formais e na expressão literária do português em geral.
O ditongo oi terá surgido como uma inovação popular, alternando com ou, muitas vezes pronunciado como vogal simples – "ô", configurando um fenómeno de monotongação –, em casos como ouro/oiro, touro/toiro e ouço/oiço. Há meio século, num estudo dedicado aos ditongos ou e oi, observava o filólogo e linguista Lindley Cintra o seguinte1:
«A grande expansão da variante [ọi̯] parece-me característica dos falares populares regionais de uma zona de fronteira entre a região em que se produz a monotongação e aquela em que se conserva o ditongo (nas suas variantes [ọu̯] ou [ạu̯]). Se dos falares regionais passássemos para a língua comum e para a literária [...] encontraríamos uma convivência, à primeira vista extremamente confusa e por isso mesmo ainda mal descrita pelas gramáticas, de formas com ou e formas com oi, importadas certamente de falares de características diversas. O emprego de umas ou de outras está longe de ser em muitos casos indiferente, como em algum sítio ...