Carlos Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Carlos Rocha
Carlos Rocha
1M

Licenciado em Estudos Portugueses pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, mestre em Linguística pela mesma faculdade e doutor em Linguística, na especialidade de Linguística Histórica, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Professor do ensino secundário, coordenador executivo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, destacado para o efeito pelo Ministério da Educação português.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Qual a grafia correta e atual do nome que rio que passa por Leiria? Qual o acordo ortográfico que sustenta a designação atual?

Resposta:

Lis é a grafia correta do nome do rio em questão.

A grafia não tem tido alteração, pelo menos, desde 1940, ano de publicação do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa da Academia das Ciências de Lisboa, no qual já figura o potamónimo (nome de rio) em apreço com a grafia Lis.

Já se propôs que Lis se relacione com a raiz de lusitano e de Olisipo, bem como com a raiz indo-europeia *lei, «verter, fluir». Mas é provável que Lis seja nome que fixou tardiamente, com origem erudita, no francês lis, que significa «lírio»2. O nome que, em relação ao rio em causa, as fontes medievais documentam é Heirena3.

1 Cf. José Pedro Machado, Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa.

2 Cf. L. J. Ramos, "Leirena - Estudos distritais e dicocesanos. Lis e Lena.",A Voz do Domingo, 23/03/1963.

3 Cf. José Pedro Machado, op. cit.

 «Póvoa de Varzim» e «Póvoa
Os artigos definidos e alguns topónimos

O nome da cidade de Póvoa de Varzim aparece muitas vezes dito e escrito como "Póvoa do Varzim", uso que encontra pararelo noutros casos da toponímia de Portugal. Um texto de Carlos Rocha sobre os topónimos e a eventualidade de terem o artigo definido associado.

Pergunta:

Podiam dizer-me o significado da expressão sublinhada na segunda frase no diálogo?

– Eram dois ladrões. Foram presos na sexta-feira.

Já não era sem tempo, mas, se calhar, daqui a três ou quatro meses já estão cá fora outra vez e voltam a fazer o mesmo.

Resposta:

A expressão «já não era sem tempo» (ou, como o verbo no presente, «já não é sem tempo») significa «finalmente», «já estava a demorar», «já tardava».

O Dicionário Houaiss regista como subentrada de tempo a locução «já não ser sem tempo» com o significado de «já tardar, já vir fora de hora» e abonada pelo frase «finalmente saiu o pagamento, e já não foi sem tempo». António Nogueira Santos, em Novos Dicionários de Expressões Idiomáticas – Português (Lisboa, Edições João Sá da Costa, 2006) consigna como uso familiar a expressão «já não é sem tempo» com significado próximo do atribuído pela fonte brasileira: «já é um tanto tarde; deveria ter sido antes».

Pergunta:

Se existem os termos sulista, nortista e nordestino para designar os habitantes das regiões correspondentes do Brasil – SulNorteNordeste –, não seria de bom uso haver também "sudestino" e "centro-oestino" para se referir aos habitantes das outras duas regiões desse país – Sudeste e Centro-Oeste?

Já vi ambos os termos em trabalhos acadêmicos, mas não achei no vocabulário da Academia Brasileira de Letras nem em outro dicionário de referência. Atenciosamente, Luiza Beirão

Resposta:

O facto de uma forma vocabular não encontrar registo dicionarístico não significa que essa palavra esteja errada.

Assinale-se, porém, que o Dicionário Priberam regista sudestino exatamente na aceção de «habitante da região brasileira do Sudeste».

Quanto a centro-oestino, na pesquisa feita, não foi possível achar entrada de dicionário, mas é vocábulo bem formado, que ocorre esporadicamente em textos académicos ou emanados de entidades oficiais – ver aqui.

Pergunta:

Aqui onde moro, temos o hábito de dizer: «Que que é isso?»

Gostaria de perguntar se isso está correto, a repetição do que, se há algum sentido.

(Não sei se ajudaria, mas o primeiro que é pronunciado com e fechado, já o outro como qui.)

Resposta:

É uma forma popular brasileira de dizer «que é que isso» (ou «o que é que isso»).

No Dicionário Houaiss (s. v. que) observa-se em nota de uso que «[a sequência o que que,] como expletivo, é corrente no Brasil em frases interrogativas informais, tanto diretas (o que que você pretende fazer?) quanto indiretas (não entendiam o que que ele tinha na cabeça)».