Carlos Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Carlos Rocha
Carlos Rocha
1M

Licenciado em Estudos Portugueses pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, mestre em Linguística pela mesma faculdade e doutor em Linguística, na especialidade de Linguística Histórica, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Professor do ensino secundário, coordenador executivo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, destacado para o efeito pelo Ministério da Educação português.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Perguntaram-me porque é que se diz «na semana passada», estando o nome antes do adjetivo, ao contrário de «na próxima semana».

Existe alguma regra/ explicação?

Obrigada.

Resposta:

É uma questão que diz respeito a expressões fixas e ao grau de formalidade da comunicação. São expressões que se fixaram no uso, tirando partido da possibilidade de, em português, o adjetivo aparecer antes do nome, muitas vezes em situações de comunicação formal.

Note-se, por exemplo, que o adjetivo seguinte ocorre quer antes quer depois do nome:

(1) «lê-se na frase seguinte»/«lê-se na seguinte frase»

Acresce que passado também pode figurar antes ou depois do nome:

(2) «na semana passada»/«na passada semana»

(3) «no domingo passado»/«no passado domingo».

Em (2) e (3), aquando o adjetivo se coloca antes do nome, o tom da expressão torna-se mais formal.

Com próximo, a tendência é colocar este adjetivo antes do nome quando o significado é temporal. Assim, emprega-se de modo corrente «na próxima semana», que é mais formal do que «na semana que vem».Por outro lado, parece ter uso escasso a expressão «na semana próxima», o que sugere que em todas estas expressões intervém um factor muito provavelmente relacionado com a cristalização de usos.

Pergunta:

Qual é a origem etimológica de esbanjar?

Resposta:

É verbo de origem obscura.

Parece ter um prefixo es-, com valor intensivo, daí o sentido de «gastar sem necessidade, em excesso». Contudo, não é claro o significado preciso e a origem do radical banj-, que faz parte deste verbo.

Apesar da semelhança fonética, não parece ter relação com banja, palavra também de origem obscura e que significa «parcela que cabe a cada pessoa numa partilha de lucros» e «trapaça no jogo» (cf. Dicionário Houaiss).

Pergunta:

É correto usar o gentílico "auvernês" para os naturais de Auvergne (centro da França) e manter o topónimo francês Auvergne, em vez do seu aportuguesamento Alvérnia ou Auvérnia?

Resposta:

Há uma grande variação na forma portuguesa que equivale ao topónimo francês Auvergne e o mesmo acontece com os gentílicos respetivos. Esta situação não é de admirar, uma vez que se trata de uma região que raramente é mencionada na comunicação oral e escrita corrente.

As formas que parecem mais estáveis são Alvérnia e Arvérnia, mas também se regista Auvérnia. Sendo os registos dos gentílicos nulos ou escassos, o de auvérnio (Infopédia e Dicionário Houaiss) dá o modelo para a formação de alvérnio e arvérnio.

Face a esta variação, uma alternativa será manter a forma francesa e, para o gentílico, recorrer a perífrase como «natural/habitante de Auvergne».

<i>Assadas</i> ou <i>grelhadas</i>?
Uma questão de sardinhas

Numa ementa lê-se «sardinhas grelhadas», o que suscita interrogações e dúvidas, porque a expressão corrente é «sardinhas assadas». Este é o mote do apontamento do consultor Carlos Rocha sobre as relações entre verbos grelhar e assar no tocante a preparar sardinhas, carapaus ou bacalhau.

Pergunta:

Em época de Festa Junina, surge-nos um dúvida: é comum que, durante as festividades de quermesse e quadrilha, haja uma brincadeira de «recadinhos amorosos entre os participantes».

E é justamente sobre o nome de tal brincadeira que reside a nossa dúvida. Como se chama?

"Correio elegante" ou "correio-elegante"?

Desde já, prévios agradecimentos.

Resposta:

Pode escrever-se com ou sem hífen: «correio elegante» e "correio-elegante".

Dicionário Michaelis regista a expressão sem hífen: «Correio elegante, Regional (São Paulo): bilhete trocado entre jovens, entregue por um portador, comum em festas populares, especialmente em quermesses, em geral de cunho amoroso.»

Dicionário Unesp do Português Contemporâneo apresenta a expressão como um composto gráfico, ou seja, com hífen: «correio-elegante [...] bilhete, geralmente de amor, trocado entre jovens em festas folclóricas e quermesses.»

Casos como estes, em que um substantivo e um adjetivo estão associados, nem sempre têm escrita estável e podem, portanto, oferecer variantes ortográficas.