Pergunta:
Posso estar muito enganado, mas me parece correto o exato oposto do que o consultor Carlos Rocha, por cuja clareza didática sempre tive, e tenho, muito apreço, respondeu ao consulente Mario Fraga.
O oposto parece-me correto ao menos quando se fala de cidadãos de determinada nacionalidade que têm ascendência parcialmente estrangeira: quando se diz «os ítalo-brasileiros», alude-se aos brasileiros de ascendência italiana.
Talvez por isso tendo a pensar num encontro franco-italiano como organizado na Itália com colaboração de franceses (ou sobre temas ligados à França). É verdade, porém, que o primeiro termo me parece, em qualquer caso, estar em posição de destaque, realçado em relação ao segundo, mas isto se me afigura naturalmente resultante da sua função de qualificador restritivo do adjetivo italiano: não é um encontro puramente italiano, mas franco-italiano, assim como ítalo-brasileiros se destacam do conjunto dos brasileiros por serem descendentes de italianos, ao passo que os demais brasileiros o serão de outros povos. Enfim, talvez haja alguma lógica diferente subjacente à formação dos adjetivos pátrios compostos quando referidos a ascendências. Não sei dizê-lo.
O que, todavia, diria com toda a certeza é que, ao menos no Brasil, um franco-italiano seria, sempre e exclusivamente, um italiano com antepassados franceses, e um ítalo-francês, um francês com antepassados italianos. Se a mesma lógica se aplica à formação dos adjetivos pátrios compostos quando não aplicados à ascendência de pessoas é que não sei dizer.
Resposta:
A resposta em causa foca a formação de compostos com adjetivos pátrios como franco-italiano ou ítalo-francês, que têm uma estrutura de coordenação e são parafraseáveis por «francês e italiano» e «italiano e francês», respetivamente. Os casos em questão – ítalo-brasileiro, franco-italiano e ítalo-francês – têm outro tipo de relação interna entre os seus constituintes, pois são parafraseáveis como «brasileiro descendente de italianos/origem italiana», «italiano de origem francesa» e «francês de origem italiana». Trata-se, portanto, de palavras do mesmo tipo que lusodescendente, «descendente de portugueses», ou afro-americano (ou afroamericano), quando esta forma significa «americano descendente de africanos» (embora a palavra também possa significar «africano e americano»).
Sobre este tipo de palavras, não há preceitos claros para a grafia das chamadas formas reduzidas dos adjetivos pátrios quando estas aludem a questões de ascendência e genealogia. A tendência é geralmente tratar as formas reduzidas (p. ex., luso-) como elementos prefixais sujeitos às regras de hifenização respetivas (ver Base XVI do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990). Os vocábulos assim constituídos devem, portanto, escrever-se sem hífen, cada qual configurado como uma única palavra gráfica.
Neste contexto, poderia até sugerir-se que afro-americano, com hífen, seria a grafia mais adequada para o adjetivo relacional composto parafraseável por «africano e americano», enquanto afroamericano corresponderia ao adjetivo que significa «relativo aos am...