Pergunta:
«Assinar de cruz» é aprovar, "assinar" um texto sem o ter percebido ou "lido" – é geralmente fácil de perceber. Mas qual a origem?
Gostaria de confirmar a resposta que um dia a minha formação académica (de que estou há quase 30 anos desligado) me terá dado azo a conhecer.
Antigamente, quando a falta de instrução e o analfabetismo, e/ou o iletrismo, eram uma extensa e triste mancha na nossa sociedade, as pessoas que não sabiam ler ou interpretar um texto (geralmente um documento que lhes respeitava: contrato, declaração...) "assinavam" com uma cruz, depois de o notário, advogado, conservador lhos terem (talvez...) lido e explicado. O que posteriormente, e na atualidade, em idênticas circunstâncias, no próprio documento viria a ser declarado num texto igual ou equivalente ao seguinte (resumido): «... foi lido e explicado à/ao ... que não assinou por não saber...»
Aguardo o favor da vossa resposta.
Obrigado.
Resposta:
A explicação proposta é que se aceita geralmente, mesmo noutras línguas europeias, faladas em países onde também o desenho de uma cruz – o sinal X – era procedimento comum para quem não sabia escrever e tinha de validar um documento.
A versão em francês do artigo sobre assinatura na Wikipédia (consultada em 07/04/2022), confirma esta motivação, muito embora não identifique fontes académicas:
«Au Moyen Âge, les lettrés comme les illettrés peuvent apposer un seing (du latin signum) sur des contrats, de la correspondance. Souvent ce ne sont que des croix autographes, mais ces seings peuvent aussi être un monogramme, des paraphes mis au bout de la signature (initiales ou toute autre symbolique permettant une double authentification), des maximes, un seing manuel royal [...], voire la marque des armoiries autographes ou créées par des sceaux et cachets, en fait tout motif symbolique peut être représenté.» [tradução livre: «Na Idade Média, tanto as pessoas alfabetizadas como os analfabetos podiam apor uma assinatura (em francês seing, do latim signum) a contratos e à correspondência. Muitas vezes essas assinaturas são apenas cruzes autógrafas, mas também podem ser monogramas, rubricas colocadas no final da assinatura (iniciais ou qualquer outro sinal que permita dupla autenticação), máximas, subscrições autógrafas reais, ou até a marca de brasões autógrafos ou criados por selos e carimbos, na verdade, qualquer motivo simbólico pode ser representado.]
Não foi possível aqui reunir informação em português sobre a história do uso deste sinal, mas a expressão «assinar de cruz» encontra definição em dicionários gerais. O