Pergunta:
A minha questão prende-se com apelidos/patronímicos.
Conquanto seja um facto, para os genealogistas, que o apelido Andrade é de origem toponímica e não patronímica, a verdade é que me parece encontrar evidências (?) de que também possa ter origem patronímica. Pelo menos, no que toca à minha família, e apenas no concernente ao nosso costado paterno – em “busca da qual” vagueei por horas, dias, semanas, meses e anos a fio, no tempo em tinha de me deslocar para a consulta das fontes, à (actual) Torre do Tombo, ao Arquivo Distrital de Santarém, à Conservatória do Registo Civil de Ferreira do Zêzere e ao Arquivo Paroquial da minha freguesia natal.
O meu texto, que se segue, vale apenas para contextualizar a problemática. A questão, portanto, é: poderá o apelido Andrade ou d’Andrade ser o patronímico de André?
Grato pela vossa atenção.
«APELIDOS; PATRONÍMICOS O apelido é o sobrenome de família que se transmite de pais a filhos. Parece terem sido os romanos que trouxeram para cá o uso do apelido. Uso com que a invasão goda acabou: com eles as pessoas apenas tinham o seu nome próprio, nada mais. Mais tarde, sob o domínio árabe generalizou-se o uso dos patronímicos. Estes, antes de se tornarem em verdadeiros apelidos, começaram por ser sobrenomes derivados do nome do pai. Alguns acabaram mesmo por constituir nomes próprios, embora derivados de outros e exprimindo filiação.
No tempo dos nossos primeiros reis, e até D. João I, vigorava a regra de que ao filho mais velho se desse o nome do avô materno seguido do apelido patronímico. Exemplo acabado desta regra é o caso de D. Afonso Henriques: Afonso, porque neto materno de Afonso (Afonso VI, rei de Leão e Castela, como se sabe – pai de D. Teresa), Henriques, porque filho de Henrique.
Mas os patronímicos também se formavam pela mera aposição do nome do pai ao do filho: assim, v. g., «Pedro ...
Resposta:
Agradece-se ao consulente a partilha do muito interessante apontamento que dedica à questão dos patronímicos, a pretexto da história de família.
Para já, as fontes aqui consultadas1 apresentam Andrade como antropónimo cujo uso corresponde a um patronímico, mas sim ao do uso de um topónimo de origem galega (região de Pontedeume).
Como bem observa o consulente, há muitos apelidos que têm origem nos antigos patronímicos medievais. Notará também que os apelidos com esta origem terminam, na sua maioria, em -es, um sufixo que ocorre em documentos medievais sob a forma -ez ou -iz e que é comum a todas as línguas românicas das regiões centrais e ocidentais da Península. Este sufixo é, portanto, comum ao castelhano, a toda a área asturo-leonesa e a todo o sistema galego-português.
Regista-se também a possibilidade de os antropónimos se tornarem patronímicos sem qualquer sufixo, como é o caso de Afonso e Lourenço, uso também comum à maior parte da Península.
Claro está que, não sendo a presente resposta dada por um especialista em genealogia, não se exclui, quanto à família do consulente, a possibilidade de um uso patronímico de André ter, por qualquer razão, dado lugar ao nome Andrade. Se assim for, parece tratar-se de uma situação insólita, porque, do ponto de vista dos padrões da história do onomástico de origem medieval, como é o caso dos apelidos terminados em -es, não se registam patronímicos com sufixo -ade.
1 José Pedro Machado, Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa (2003) e José Leite de Vasconcelos,