Pergunta:
Estou a ler a História Rocambolesca de Portugal (de João Ferreira), precisamente no capítulo dedicado a Santo António de Lisboa (ou Pádua), em que o autor descreve os motivos por que o santo ficou ligado a estas duas cidades.
Num breve resumo: Santo António nasceu em Lisboa, mas viveu muitos anos em Itália, onde se destacou pelas suas qualidades humanistas e pelos seus sermões. Veio a falecer em Itália; a cidade de Pádua erigiu-lhe uma monumental igreja, e Lisboa dedicou-lhe um feriado.
Ora, é precisamente aí que a minha ignorância veio ao de cima! Nunca me ocorrera que o povo de Pádua se denominasse patavino.
Será que a nossa expressão «Não perceber patavina!» tem relação direta com a rivalidade que o povo lisboeta (e no geral, português) tem com os patavinos?
É curioso, mas esta rivalidade até nos faz esquecer que o verdadeiro padroeiro de Lisboa é São Vicente, e não Santo António.
Grata.
Resposta:
O Dicionário de Expressões Correntes, de Orlando Neves, edição da Editorial Notícias, regista a expressão «não perceber patavina», com o significado de «não entender nada», mas diz para ver «não saber patavina».
Em «não saber patavina», esta obra diz que a palavra patavina tem em português dois sentidos: na expressão, significa «nada, coisa alguma»; em outra acepção, quer dizer «pateta, idiota, patarata». Dela se forma patavinice, que se usa, por exemplo, em «dizer patavinices», ou seja, «dizer tolices, tontices, coisas que não se entendem».
Chamavam os Romanos Patavium à actual cidade de Pádua nos primeiros anos da era cristã. "Patavino" será, pois, não apenas o natural de Pádua, mas tudo o que lhe diz respeito. Como passou "patavina" ao significado da expressão que, de resto, se usa em outra línguas? Pádua foi a terra natal do orador e historiógrafo Tito Lívio. A sua notável obra destacou-se não apenas pelo contributo ao conhecimento da História, mas também pela qualidade estilística. Todavia, As Décadas foram acusadas de incluírem demasiadas patavinitas, isto é, palavras ou construções regionais típicas do dialecto da sua cidade. "Não saber patavina" (ou "o patavino") era, assim, não compreender nada do que Lívio escrevera. Por outro lado, a tendência para se considerar, nos meios eruditos, os regionalismos como linguagem de gente rústica e ignorante justificará a "patavinice". Adianta-se, por vezes, outra explicação, mais restritiva. Pádua tinha, desde 1222, uma das mais importantes universidades europeias. Rivalizava com a de Bolonha, durante a Idade Média, sobretudo no ensino do Direito. Ninguém que seguisse a carreira das leis poderia ignorar a ciência jurídica proveniente de Pádua – ou seja, "não saber (a escola) pat...