Pergunta:
Na frase «O aluno queixou-se do professor ao diretor», temos dois objetos indiretos («do professor» e «ao diretor»)? É correto?
Obrigado por esclarecer-me.
Resposta:
É correcto, do ponto de vista da Nomenclatura Gramatical Brasileira, que permite classificar como transitivo todo o verbo que necessita de um complemento que integra a predicação; por exemplo: «Comprei um automóvel»; «Queixar-se da chuva» (cf. Celso Cunha e Lindley Cintra, Nova Gramática do Português Contemporâneo, Lisboa, João Sá da Costa Editores, 1984, pág. 144).
De assinalar, contudo, que, entre gramáticos brasileiros, há outras perspectivas. Evanildo Bechara, por exemplo, na sua Gramática da Língua Portuguesa (36.ª edição, pág. 235), faz notar o seguinte:
«A NBG [Nomenclatura Gramatical Brasileira], a bem da simplicidade, reúne sob a denominação única de objeto indireto complementos preposicionados verbais de naturezas bem diversas: o objecto indireto propriamente dito, em geral encabeçado pelas preposições a ou para (escrevi aos pais), o complemento partitivo, em geral encabeçado pela preposição de (lembrar-se de alguma coisa) e o complemento de relação, também encabeçado, em geral, pela preposição de (ameaçar alguém de alguma coisa). Isto nos leva a compreender a presença de dois objetos indiretos numa mesma oração como:
Queixa-se dos maus-tratos ao diretor.»
Assim, e de acordo com Bechara, o constituinte «do professor», no exemplo que o consulente indica, seria definido como complemento relativo1, enquanto Celso Cunha e Lindley Cintra o classificariam como um complemento indirecto, pois é um complemento que se liga ao verbo por meio de uma preposição. Quanto a «ao professor», trata-se de um objeto indireto na ótica de ambas as gramáticas.