Carla Viana - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Carla Viana
Carla Viana
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Carla Viana é licenciada em Linguística e mestranda em Linguística Computacional pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.

 

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Na frase «fumar mata», a palavra fumar é um substantivo e tem a função de sujeito?

Resposta:

A palavra fumar é um infinitivo impessoal que tem a função de sujeito na oração reduzida de infinitivo «Fumar mata». O sujeito é assim uma oração (fumar) uma vez que o seu núcleo é classificado como verbo. O predicado desta frase é mata.

As orações reduzidas de infinitivo são orações subordinadas não iniciadas por relativo nem por conjunção subordinativa, em que o verbo ocorre no infinitivo.

Estas orações podem ser substantivas, adjectiva e adverbial, consoante a sua equivalência às subordinadas iniciadas por pronomes relativos ou conjunções subordinativas com valor substantivo, adjectivo e adverbial.

Pergunta:

Qual é o grau superlativo absoluto sintético de frondoso?

 

Resposta:

O superlativo absoluto sintético forma-se pelo acréscimo ao adjectivo do sufixo -íssimo. Assim o grau absoluto sintético do adjectivo frondoso é frondosíssimo.

Pergunta:

Gostaria de saber qual o aumentativo de vapor.

 

Resposta:

O aumentativo do substantivo vapor é vaporzão. Os sufixos aumentativos sugerem ao nome as ideias de desproporção, de disformidade ou de coisa desprezível. O aumentativo pode ainda ressaltar o valor depreciativo ou pejorativo, como em bocarra («boca enorme»).

Pergunta:

«O Ronaldo é como o dinheiro, parado não rende.»

ou

«O Ronaldo é como o dinheiro. Parado não rende.»

A primeira vi numa placa publicitária no topo (início) da Av. António Augusto de Aguiar [Lisboa] e a mim não me parece correcta.

Resposta:

Comecemos por referir que a segunda oração («parado não rende») não está na ordem directa, porque «parado» é o predicativo do sujeito subentendido: «(Ronaldo) não rende parado». Como este constituinte saiu da sua posição pós-verbal, é necessário vírgula de modo a assinalar a violação da ordem canónica:«Parado, não rende».

Entre as orações «Ronaldo é como o dinheiro» e «parado, não rende», é possível utilizar a vírgula ou não. Se se pronunciar a frase seguidamente, é necessário colocar a vírgula:

«O Ronaldo é como o dinheiro, parado, não rende.»

Neste caso a vírgula seria empregada para separar as duas orações coordenadas assindéticas.

Contudo, a ocorrência das duas vírgulas com funções tão diferentes pode tornar confusa a frase. Por esta razão, se a pausa for longa na palavra dinheiro, colocamos um ponto final. Mas, se a intenção for salientar que a segunda oração esclarece o sentido da primeira, a pontuação preferível é esta:

«O Ronaldo é como o dinheiro: parado, não rende.»

Pergunta:

Tenho a seguinte frase: «Os modelos intermediários criaram algumas ilhas de prosperidade (como os países escandinavos), possíveis por circunstâncias muito especifícas de sua história e cultura, mas não conseguiram oferecer uma alternativa séria a países grandes e pobres como o Brasil.»

Seria correto eu escrever «... mas não conseguiram oferecer uma alternativa séria aos países grandes...», já que quem oferece, oferece alguma coisa a alguém?

Resposta:

Ambas as expressões — «oferecer... aos países grandes» e «oferecer... a países grandes» — estão correctas. O verbo oferecer é empregado com um complemento directo (no exemplo, «uma alternativa séria») e um complemento indirecto («a/aos países grandes»).  O complemento indirecto é introduzido pela preposição a, que pode ser seguida ou não pelo artigo definido (o(s)/a(s)), dependendo da intenção da pessoa que fala: «aos países grandes» é uma referência mais específica, que realça o facto de se tratar desses países e não de outros quaisquer. «A países grandes», com a preposição a mas sem artigo, é uma opção igualmente válida, porventura mais vaga, podendo interpretar-se como «certos países» ou «países que existam».

Acresce que que, embora haja preposições que se contraem com os artigos definidos, não deve haver contracção quando o artigo faz parte de um constituinte de uma frase infinitiva introduzida por uma preposição («não concordaram com a sua opinião por a mesma ser disparatada»), assim como também não deve havê-la quando, em vez de um artigo, temos um pronome pessoal que lhe é semelhante («obrigado por o mencionares»). Quando o artigo faz parte de um título, existem casos de flutuação: «em Os Lusíadas», «n´ Os Lusíadas».

Relativamente aos demais determinantes e pronomes que podem contrair com preposições, seguem-se regras semelhantes às que regulam a contracção das preposições com artigos: não devem contrair quando a preposição rege não o sintagma nominal a que os pronomes ou determinantes pertencem mas introduzem a frase em que os determinantes ou pronomes se encontram, frase que será sempre infinitiva.

Nos outros con...