Pergunta:
Tenho visto algumas frases em que a construção ao + infinitivo me parece inadequada, possivelmente por resultar de traduções literais do inglês by + ing form, e gostaria de saber se a sua aplicação está correta ou não nos exemplos de 1 a 3.
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Intuitivamente, costumo usar a construção ao + infinitivo em orações temporais ou temporais-causais e valido a sua utilização substituindo-a por quando ou marcas temporais similares, como nestes exemplos.
4) Ao sair de casa, reparei que me tinha esquecido da chave. (Quando saí de casa, reparei que me tinha esquecido da chave)
5) A rapariga corou ao ver o rapaz. (A rapariga corou porque/quando viu o rapaz)
6) Ouviu as notícias ao preparar o jantar. (Ouvi as notícias enquanto preparava o jantar)
Eu percebo que nos exemplos de 1 a 3 se possam substituir as expressões ao + infinitivo por quando e, ainda assim, obter frases gramaticais. Contudo, parece-me que há uma notória alteração no significado destas frases. Para ser mais exata, estas frases são exemplos inspirados em traduções do inglês em que a forma ao + infinitivo serve de tradução de by + formas terminadas em -ing, que optei por não partilhar na plataforma por razões de confidencialidade. No entanto, em inglês seria mais ou menos assim:
1) You can see more info by clicking on this link traduzido como «Pode ver mais informações ao clicar neste link»;
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Resposta:
Com efeito, as orações temporais (reduzidas) com a estrutura ao + infinitivo expressam habitualmente um valor temporal, que é tipicamente o da simultaneidade1 (frase (1)). Surgem também usos com o valor de contiguidade temporal (frase (2)):
(1) «Ao ver o João, sorriu.»
(2) «Ao comer um doce, sentiu-se mal.»
Assim, em (1), o evento de «ver o João» é simultâneo ao de «sorrir». Em (2), o evento «sentir-se mal» ocorre após o de «comer um doce».
Nalgumas, identificamos uma proximidade entre os valores temporais de base e uma interpretação causal na relação entre os eventos descritos nas duas orações. Tal deve-se ao facto de uma das propriedades da relação causal ser a ordenação linear no tempo2. Este facto é observável sobretudo na frase (2), na qual o evento «sentir-se mal» pode ser interpretado como causado por «comer um doce».
No caso das frase apresentadas, transcritas de (3) a (5), percebemos que a relação temporal de simultaneidade poderá, eventualmente, ser pertinente em (3) e (5):
(3) «Pode ver mais informações ao clicar neste link.»
(4) «Publica um anúncio ao aceder à página principal.»
(5) «Descobre mais novidades ao ler este artigo.»
É aceitável uma interpretação de (3) em que se veicula o valor temporal de contiguidade, na qual o evento «clicar neste link» ocorre em primeiro lugar, sendo seguido de «ver mais informações». Também a frase (5) permite esta leitura de contiguidade temporal: o evento «ler este artigo» é seguido do evento «descobrir mais novidades». Esta leitura já não parece ser tão natural na frase (4) pois não parece, que a intenção seja a de veicular um valor de contiguidade entre evento.
Não obstante ser po...


