Origem e história do ditado «Sarampo sarampelo, sete vezes vem ao pelo», pela professora Carla Marques.
(Programa Páginas de Português, da Antena 2, de 09/02/2024)
Doutorada em Língua Portuguesa (com uma dissertação na área do estudo do texto argumentativo oral); investigadora do CELGA-ILTEC (grupo de trabalho "Discurso Académico e Práticas Discursivas"); autora de manuais escolares e de gramáticas escolares; formadora de professores; professora do ensino básico e secundário. Consultora permanente do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, destacada para o efeito pelo Ministério da Educação português.
Origem e história do ditado «Sarampo sarampelo, sete vezes vem ao pelo», pela professora Carla Marques.
(Programa Páginas de Português, da Antena 2, de 09/02/2024)
Qual a forma mais correta?
– Cuidaram ativamente das necessidades de outros.
– Cuidaram ativamente das necessidades dos outros.
Grato.
Ambas as construções são possíveis. Poderão, todavia, ser usadas para expressar sentidos ligeiramente diferentes.
No caso da frase transcrita em (1), o complemento do nome necessidades é introduzido por uma preposição que não se contrai com um artigo definido:
(1) «Cuidaram ativamente das necessidades de outros.»
Esta opção leva a que a estrutura veicule uma interpretação genérica, na qual o referente de outros é interpretado como podendo referir-se a qualquer pessoa.
Na frase (2), o complemento do nome é introduzido pela preposição de contraída com o artigo definido os:
(2) «Cuidaram ativamente das necessidades dos outros.»
Neste caso, a presença do artigo definido contribui para a construção de um sentido que aponta para um referente concreto, que poderá corresponder a um grupo de pessoas que é possível identificar ou no mundo extralinguístico ou a partir do contexto discursivo anterior.
Todavia, esta última frase poderá também ser usada com algum grau de genericidade, que se aproxima muito do sentido da frase (1), o que nos leva a concluir em, em determinados contextos, o uso de uma ou de outra frase acabará por não produzir uma diferença efetiva.
Disponha sempre!
Nos versos «Passai-me, por vossa fé, / meu amor, minhas boninas, / olho de perlinhas finas!», da obra Auto da Barca do Inferno, de Gil Vicente, para além de metáforas e apóstrofes, podemos dizer, também, que estão presentes enumerações?
Muito grato!
Poderemos considerar a presença da enumeração nos versos referentes a uma fala da personagem Brízida Vaz, da obra vicentina.
A enumeração é um recurso expressivo que consiste na «[a]dição ou inventário de coisas relacionadas entre si, cuja ligação se faz quer por polissíndeto quer por assíndeto»1.
Neste caso, por meio de apóstrofes, enumeram-se traços eufóricos atribuídos ao Anjo, como uma estratégia argumentativa orientada para o convencer a salvar a personagem Brízida Vaz.
Disponha sempre!
1. E-Dicionário de Termos Literários (EDTL), coord. de Carlos Ceia.
Na frase «Aqui, onde vivo há muitos anos, sou feliz», qual a função sintática da oração subordinada adjetiva relativa explicativa «onde vivo há muitos anos»?
A dúvida é a seguinte: estas orações desempenham a função sintática de modificador apositivo de nome. Porém, aqui é um advérbio.
Então, qual a função sintática?
Obrigada!
A oração relativa «onde vivo há muitos anos» desempenha a função sintática de modificador do advérbio com valor explicativo.
Na frase apresentada, a oração relativa é introduzida pelo advérbio onde, que assume como antecedente o advérbio aqui. A oração, ao incidir sobre o advérbio, modifica o seu sentido, associando-lhe, neste caso, uma informação que apresenta uma explicação que contribui para a sua localização.
Nomes, adjetivos e advérbios podem incluir no grupo de palavras de que são núcleo constituintes com a função de modificador, que, por coerência, assumem uma designação que indica qual a classe sobre a qual estão a incidir.
Diga-se, todavia, que, de acordo com os documentos de referência curricular para o ensino não universitário, somente a função de modificador do nome é estudada.
Disponha sempre!
Como podemos classificar a frase «Ofélia resolveu explicar o que sentia num bilhete, mas não sabia ao certo que palavras utilizar» quanto ao seu valor aspetual?
Na frase, podemos identificar diferentes valores aspetuais, associados às diferentes situações descritas.
Assim, em «resolveu explicar», está presente o valor perfetivo, que permite a apresentação da situação como concluída. Já em «o que sentia» e em «não sabia», identificamos o valor aspetual imperfetivo, ao serviço da descrição das situações como estando no seu decurso, não estando fechadas.
Disponha sempre!
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