Do ponto de vista da integração numa classe de palavras, nunca é um advérbio de negação ou um advérbio de tempo? A resposta é dada no apontamento da professora Carla Marques.
(Apontamento divulgado no programa Páginas de Português, da Antena 2)
Doutorada em Língua Portuguesa (com uma dissertação na área do estudo do texto argumentativo oral); investigadora do CELGA-ILTEC (grupo de trabalho "Discurso Académico e Práticas Discursivas"); autora de manuais escolares e de gramáticas escolares; formadora de professores; professora do ensino básico e secundário. Consultora permanente do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, destacada para o efeito pelo Ministério da Educação português.
Do ponto de vista da integração numa classe de palavras, nunca é um advérbio de negação ou um advérbio de tempo? A resposta é dada no apontamento da professora Carla Marques.
(Apontamento divulgado no programa Páginas de Português, da Antena 2)
A minha dúvida: «Festas de Lisboa é no largo Madragoa!» ou «Festas de Lisboa são no largo Madragoa!»?
Sendo Festas de Lisboa uma "marca", faz-me sentido utilizar o verbo no singular...
Neste caso, é preferível a concordância do verbo no singular.
Quando o sujeito e o predicativo do sujeito têm um valor de número diferente (singular e plural), o verbo ser tem tendência a flexionar no plural1.
No entanto, no caso em apreço, estamos perante uma situação particular. O sujeito «Festas de Lisboa» é equivalente a um título, o que leva a que seja interpretado como uma entidade única. Este facto desencadeia uma concordância verbal pelo sentido, o que justifica o recurso ao singular2:
(1) «Festas de Lisboa é no largo Madragoa!»
Note-se, ainda, que em casos semelhantes ao analisado pode ocorrer concordância no plural se o sujeito incluir um determinante artigo. Nesta situação, far-se-ia a concordância no plural:
(2) «As Festas de Lisboa são no largo Madragoa!»
Disponha sempre!
1. Cf. 1. Raposo et al., Gramática do Português. Fundação Calouste Gulbenkian, p. 2483.
2. Para mais informações, cf. Idem, Ibid., p. 2455-2457.
O verbo sobrevoar tem voz passiva?
Pode dizer-se «fui sobrevoado por um avião», por exemplo?
Obrigado.
O verbo sobrevoar pode ser usado em construções passivas. No entanto, a frase apresentada terá um uso duvidoso no quotidiano.
De uma forma geral, os verbos transitivos admitem forma passiva. Estes caracterizam-se por selecionar um argumento interno com o papel temático de paciente, que desempenha a função sintática de complemento direto, e um argumento externo, que tem o papel temático de agente e que desempenha a função sintática de sujeito. Na forma passiva, as frases com estes verbos descrevem tipicamente situações em que uma das entidades envolvidas sofreu algum tipo de mudança.
Ora, o verbo sobrevoar é transitivo direto, pelo que admite ser usado na passiva, o que aliás se pode comprovar por usos identificados no Corpus do Português, de Mark Davies, similares ao que aqui se apresenta:
(1) «Ao princípio de o dia, aviões da Nato tinham sobrevoado a capital bósnia, depois de uma coluna de camiões governamentais ter sido atacada por forças sérvias bósnias em a região ocidental de Sarajevo.» (Público, 1995)
O verbo sobrevoar constrói-se normalmente com um argumento interno com a função de complemento direto que tenha um valor locativo, ou seja, «sobrevoar algum local». É mais rara a construção «sobrevoar alguém»:
(2) «O avião sobrevoou os jovens.»
Neste caso, «os jovens» será entendido como o local onde os jovens se encontram. Esta construção com complementos de natureza human...
«Todos os dias são dia da criança ou «todos os dias é dia da criança»?
A forma «são» é preferível atendendo ao predomínio da concordância no plural e à própria sonoridade da frase.
De uma forma geral, nas frases copulativas, assinalam-se situações em que o verbo concorda não com o sujeito, mas com o predicativo (ver textos relacionados).
Por vezes, a opção está também relacionada com o ritmo ou a sonoridade da frase em função da flexão do verbo no singular ou no plural.
No caso da frase em apreço, a frase apresentada em (1) parece preferível:
(1) «Todos os dias são dia da criança.»
Relativamente a esta situação, Raposo afirma que «[q]uando o sujeito e o predicativo desencadeiam flexão verbal em número de valor diferente – singular e plural –, é o valor plural que tem primazia na concordância verbal, independentemente de se manifestar no sujeito ou no predicativo»1.
Neste caso, a opção será, pois, a de fazer concordar o verbo com o seu sujeito.
Disponha sempre!
1. Raposo et al., Gramática do Português. Fundação Calouste Gulbenkian, p. 2483.
Devo considerar o complemento «a pagar» da frase «procedam à intimação a pagar» como oração completiva nominal reduzida de infinitivo, deixando o verbo obrigatoriamente no singular?
Ou posso considerá-la como oração adverbial final, nesse caso, deixando o verbo na terceira pessoa do plural (porque, esclarecendo o contexto, a intimação é de várias pessoas)?
Grato desde já.
A oração em questão constitui uma oração subordinada reduzida de infinitivo.
A oração «a pagar» está dependente do nome intimação, funcionando como um argumento pedido pelo nome, pelo que constitui uma completiva nominal que integra o sintagma nominal que tem intimação como núcleo. Não se trata, portanto, de uma oração subordinada adverbial final, que se relacionaria com a oração subordinante estabelecendo uma finalidade a atingir.
Em contextos de subordinação nominal, pode usar-se tanto o infinitivo flexionado como o infinitivo não flexionado, verificando-se liberdade na escolha1. Por essa razão, são aceitáveis ambas as construções apresentadas em (1) e (2):
(1) «procedam à intimação a pagar»
(2) «procedam à intimação a pagarem»
Disponha sempre!
1. Cf. Barbosa e Raposo in Raposo et al., Gramática do Português. Fundação Calouste Gulbenkian, p. 1936.
Este é um espaço de esclarecimento, informação, debate e promoção da língua portuguesa, numa perspetiva de afirmação dos valores culturais dos oito países de língua oficial portuguesa, fundado em 1997. Na diversidade de todos, o mesmo mar por onde navegamos e nos reconhecemos.
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