Ana Rita B. Guilherme - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Ana Rita B. Guilherme
Ana Rita B. Guilherme
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Licenciada em Línguas e Literaturas Modernas-Estudos Portugueses e Ingleses pela Faculdade de Letras de Lisboa; mestre em Linguística Portuguesa pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa; investigadora do Centro de Linguística da Universidade de Lisboa.

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Estou a fazer um estudo sobre a fileira do vinho alvarinho para a minha tese de mestrado e necessito da explicação da origem da palavra alvarinho. A palavra está principalmente associada a uma casta, no entanto, também se encontra associada a uma espécie de carvalho e, pelo menos que eu saiba, a uma aldeia no distrito de Viseu. Gostaria de saber de que maneira me podem ajudar nesta minha pesquisa.

Desde já, obrigado.

Resposta:

A palavra alvarinho deriva do latim, do adjectivo alvar, que denomina algo de «cor branca, esbranquiçado». Daí a denominação deste tipo de vinho como alvarinho.

Segundo o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, o nome alvarinho é também sinónimo de carvalho.

Sempre ao seu dispor,

Pergunta:

A palavra ameia designaria aquela saliência dentiforme no cimo de muralha de castelo, ao passo que merlão seria o espaço entre duas ameias? Ou seria o contrário?

Faço-vos esta consulta, pois, a meu ver, os dicionários não nos fornecem uma definição clara, inequívoca sobre as duas palavras em apreço. Se se comparam as definições dadas pelo Porto Editora e pelo Aulete Digital, ambos dicionários eletrônicos em linha, tem-se a impressão que um dá uma definição que é inversa da do outro para o mesmo vocábulo.

Quanto à palavra adarve, ela é, segundo os léxicos, o nome daquele caminho estreito no topo das muralhas. No caso de ser uma passagem mais larga, como a da Muralha da China, também se chamaria adarve, ou teria outro nome?

Mais uma vez, muitíssimo obrigado.

Resposta:

Uma ameia é «cada um dos parapeitos separados regularmente por merlões na parte superior das muralhas de fortalezas e castelos; recorte no cimo de muralha ou torre» (Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa). Um merlão é «elemento que se alterna sucessivamente a uma área vazia (ameia), geralmente construído de tijolos de adobe, cerâmica ou pedra, especialmente usado na Antiguidade e na Idade Média para guarnecer as coberturas de construções fortificadas, com o sentido de proteger os arqueiros das flechas inimigas. Por vezes é dotado de seteiras, ou, em certos casos, tem carácter mais decorativo do que defensivo» (Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa). Portanto, uma ameia é o espaço entre o merlão.

No que diz respeito à palavra adarve, esta é definida no mesmo dicionário como «caminho estreito sobre os muros das fortalezas; andaime; muro construído com ameias, em fortalezas», por isso a passagem da Muralha da China, embora seja mais larga, pode ser entendida como um adarve, já que este etimologicamente significa «caminho, desfiladeiro».

Sempre ao seu dispor,

Pergunta:

Qual a forma mais correcta de designar o piso tradicional japonês? "Tatame", ou "tatami"? E como se forma o plural? Tem plural, ou será como bonsai?

Resposta:

Segundo o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, tatame é o mesmo que tatâmi/tatami (tapete japonês que serve para a prática de artes marciais). Todavia, este dicionário não faz referência ao plural da palavra. No entanto, surgem no sítio da Internet da Linguateca os seguintes contextos com a palavra tatami:

(i) Após cada queda no tatami (tapete), algumas, bem duras, levantam-se imediatamente e apenas ajeitam o judogui (equipamento) antes de se lançarem com respeito ao adversário.

(ii) Homens e mulheres, de akamás brancas imaculadas, esse elegante vestuário unissexo que permite dissimulação e ao mesmo tempo agilidade de movimentos, circulam silenciosamente pelo tatami, o tapete do dôjo.

Tendo em conta estes dois contextos e tendo em consideração a definição dada pelo dicionário, a forma singular mais comum é tatami (substantivo, masculino), embora tatame também possa ser utilizada. No que diz respeito ao plural, podemos assumir que se forma como o plural de bonsai, i. e. bonsais, e além disso não existe nenhuma objecção do ponto de vista da morfologia do português para a formação do plural regular: tatamis ou tatames.

Sempre ao seu dispor.

Pergunta:

O sufixo -ão, às vezes sozinho, às vezes antecedido de outros sufixos e elementos de ligação, funciona como aumentativo, mas casos há em que o mesmo, ao que tudo indica, faz, pelo contrário, o papel de um sufixo diminutivo. Alguns exemplos: calção (calça pequena, curta), pontilhão (ponte pequena, de pouca extensão), caravelão (pequena caravela), talvez também em torreão, que, salvo engano, é a menor torre de um castelo.

Os nobres consultores confirmam que o sufixo supramencionado tem mesmo a função diminutiva em alguns casos? Se sim, poderiam apresentar outros exemplos?

Muito obrigado.

Resposta:

A literatura é na sua generalidade unânime em relação ao sufixo -ão: é considerado um dos sufixos por excelência para a formação de aumentativos, e não faz parte da lista de sufixos classificados como diminutivo. Todavia, na Nova Gramática do Português Contemporâneo, encontramos a seguinte afirmação:

(i) «(…) o valor (dos sufixos aumentativos) é mais afectivo do que lógico.»

Em síntese, é seguro afirmar que o sufixo -ão é um afixo aumentativo, mas no entanto é preciso também ter em conta a etimologia da palavra e o valor semântico que foi adquirindo, porque de fato pontilhão (ponte + i + lhão) é uma ponte pequena, mas em relação às outras palavras em questão o sentido de maior dimensão está presente nos significados destes nomes, à excepção de caravelão.

(ii) Calção é definido como uma calça curta mas larga;

(iii) A palavra caravelão não tem uma definição unânime e foram encontradas três definições diferentes – «caravela rudimentar de pequeno porte» (Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa); «caravela grande» (Novo Dicionário Compacto da Língua Portuguesa); «embarcação semelhante aos navios de pesca de Lisboa» (Grande Dicionário de Língua Portuguesa);

Pergunta:

Em Portugal, usa-se muito o advérbio donde? Quais são as acepções mais usadas? Não se preferem sinónimos?

Aí vão os meus sinceros agradecimentos pela atenção de sempre!

Resposta:

Este advérbio é constituído pela preposição de mais o advérbio de lugar onde, e significa: «do qual lugar»; «de que lugar», ou seja, indica a origem ou a proveniência de algo ou de alguém, mas também pode significar do que se conclui. Além disso, também é utilizado como pronome interrogativo para introduzir interrogativas directas e indirectas para perguntar a origem ou a proveniência de alguma coisa ou alguém, como por exemplo:

(i) «És donde?» «Sou do Porto.»
(ii) «Donde veio esse vinho?» «Veio do Alentejo.»

É um advérbio usado com bastante frequência em português europeu, precisamente para interrogativas deste género.

Segundo o Dicionário Houaiss, «no Brasil, ocorre com mais freqüência a loc[ução] de onde».

Sempre ao seu dispor.