Pergunta:
Tenho por hábito inventar palavras novas que, geralmente, não passam do círculo restrito de familiares e amigos, mas espanta-me o uso sistemático (por parte até de figuras públicas, leia-se políticos) de miríades de palavras que não constam dos dicionários, ou que até podem constar mas induzem uma aplicação noutros contextos. Da lista fazem parte verbos muito em voga como "elencar", "compaginar" e "plasmar" ou o mais do que inédito substantivo "implantamento", que ouvi outro dia numa reunião. Serão modismos, erros crassos ou sinal de que a língua portuguesa é uma língua viva, passível de ver o seu léxico engrossado com um ramalhete fértil de palavras novas e úteis? Passado o espanto, é de integrar ou excluir aquilo que muita gente pensa, por soberba ou ignorância, estar a pronunciar correctamente? Para já não falar de certos aportuguesamentos ("clicar" já existe?) e expressões da moda como "sendo que", verdadeira rival dos "portantos" de outrora. Outro aspecto tem a ver com a dificuldade em traduzir/inventar rapidamente palavras novas capazes de serem adoptadas pelo público em geral, para que não tenhamos, por exemplo, de passar uma boa parte da nossa vida a falar de "T-shirts" e a ter de escrever a palavra em itálico ou entre aspas.
Resposta:
1. Todas as línguas estão sujeitas a variação no tempo. A hesitação entre duas formas num dado momento é sinal de que no futuro se vai produzir mudança. Por exemplo, no período em que estamos, são purismos os usos de sobrescrito (por envelope) e de tinha pagado (por tinha pago); é seguramente um modismo dizer “colocar questões” em vez de fazer perguntas. Repare, no entanto, que o detalhe em vez de pormenor já não é tão mal visto. Uma coisa é certa: o facto de estranharmos a variação quer dizer que reconhecemos estabilidade e homogeneidade na língua.
2. Os termos elencar, compaginar, plasmar, clicar e T-shirt estão registados no Dicionário Porto Editora 2006. O seu colega, na reunião, equivocou-se e, em vez de dizer implantação, disse implantamento. Acontece.