Já vimos que o discurso publicitário recorre frequentemente a “charadas gráficas”, a combinações de símbolos que exigem decifração e que apelam ao lado visível e auditivo das palavras.
Veja-se o exemplo: «i9 (produto TMN). Condensa-se aqui a instigação a uma atitude muito valorizada socialmente: «inove». Capta-se o interesse do consumidor através de uma criação inusitada e divertida.
O mesmo não se passa com a euforia do uso do “k”: «Konta Caixahabitação Jovem»; «A Konta que conta a valer»; «Konta jovem»; «Faz a Konta» (anúncios e produtos da Caixa Geral de Depósitos); «E tu keres voar? Abre uma conta e voa!» (anúncio do Millenium); “Destak” (jornal gratuito); Kulto (programa da RTP-2).
O que há aqui para decifrar? Nada. Que trocadilho está aqui em jogo? Nenhum. Há o ir atrás de uma moda, enraizada no código das SMS e dos “chats”, onde o “k” é letra de ordem. Explora-se simplesmente o pressuposto de que a imitação de hábitos linguísticos (e ortográficos) é um sinal de pertença a um grupo, neste caso, etário.
É uma opção gratuita, mas não inofensiva. É que esta moda está sustentada noutra, mais ampla, que a escola não consegue combater: a veleidade de se pensar (e dizer) que tanto faz escrever desta maneira como daquela, como se a grafia das palavras não reflectisse uma história, um percurso de evolução, muito longe da função de representar uma dada pronúncia.
Todas as modas têm uma esperança de vida. Esperemos que a desta seja curta.
Artigo publicado no semanário "Sol" de 13 de Janeiro de 2006, na coluna "Ver com se diz"