Ana Carina Prokopyshyn - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Ana Carina Prokopyshyn
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Ana Carina Prokopyshyn (Portugal, 1981), licenciada em Línguas e Literaturas Modernas (2006) e mestre em Linguística Geral pela FLUL (2010). Desde 2010 frequenta o doutoramento em História Contemporânea (Lusófona e Eslava). Participou com comunicações e a nível da organização em várias conferências internacionais, e presta serviços em várias instituições como professora de Português para estrangeiros, tradutora e revisora. Atualmente é leitora de Língua e Cultura Russa I e II na mesma universidade e investigadora no Centro de Línguas e Culturas Lusófonas e Europeias. Colabora como consultora de língua Portuguesa no Ciberdúvidas desde 2008.

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Gostaria de saber qual é a diferença entre as seguintes frases:

1. «A chegada do avião está prevista para as 14h35.»

2. «A chegada do avião está prevista às 14h35.»

3. «A chegada do avião está prevista pelas 14h35.»

Muito obrigado pela sua ajuda|

Resposta:

Consideramos as três frases correctas e praticamente equivalentes quanto ao seu significado, apresentando como única diferença o grau de exactidão relativamente à referência temporal do evento em questão, ou seja, «a chegada do avião». Vejamos:

1. «A chegada do avião está prevista para as 14h35 [em ponto].»
2. «A chegada do avião está prevista às 14h35 [em ponto].»
3. «A chegada do avião está prevista pelas 14h35 *[em ponto].»

 

Como podemos ver, nas frases 1 e 2 é possível acrescentar o grupo preposicional «em ponto», mas se o fizermos em 3 geramos uma sequência agramatical (assinalada com asterisco). Assim, verifica-se uma ligeira nuance de significado: em 1 e 2, espera-se que o avião chegue a uma hora certa; em 3, existe um marco temporal aproximado, passível de oscilações.

Note-se, ainda, que, se, em vez de «está prevista», tivéssemos «prevê-se», estaríamos perante um caso de ambiguidade. Vejamos:

4. «Prevê-se a chegada do avião para as 14h30.»
5. «Prevê-se a chegada do avião às 14h30.»
6. «Prevê-se a chegada do avião pelas 14h30.»

 

A interpretação das duas últimas frases (5 e 6) é ambígua, dado que a referência temporal pode estar relacionada com o momento de chegada do avião ou com o momento em que se faz a previsão da chegada.

Se quisermos manter estas duas preposições, aconselhamos a desambiguação da seguinte forma:

7. «Prevê-se que o avião chegue às 14h30.»
8. «Prevê-se que o avião chegue pelas 14h30.»

 

Novamente, verificamos alterações quanto à referência temporal; em 7, o tempo do eve...

Pergunta:

Gostaria de saber se as palavras irracionais e indispensáveis apresentam o mesmo prefixo. E porquê.

Resposta:

A resposta é sim. Em ambas as palavras se encontra o prefixo latino in-, com o significado de «privação, negação, etc». Como explicado no Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, este prefixo ocorre sob as formas variáveis «il-, im-, ir- (por assimilação total, antes dos voc[ábulos] iniciados por l, m e r, e por assimilação parcial, antes de b e p) e i- (por dissimilação, antes de pal[avras] iniciadas por gn-)». Desta forma, podemos observar o mesmo prefixo na formação de palavras como indispensável, ilógico, irregular, irracional, impedir, etc. O mesmo dicionário refere ainda que este prefixo «começa a ser empregado na língua do sXIV em diante, prosperando em fecundidade até os dias de hoje, conformando-se aos padrões lat[inos] originais, como pref. em adjetivos, em particípios passados e/ou supinos, em substantivos, em advérbios e em der[ivação] de tais pal[avras] assim formadas».

Pergunta:

«Passei por isso (a dolorosa morte da mulher)! Muitos passam também. A tudo superei, fui além das saudades. Agora vem chegando a minha vez.»

Na frase acima, do ponto de vista do autor, que vê aproximar-se a morte, penso estar correto o uso de «vem chegando». Poderia utilizar-se também a expressão «vai chegando»?

Obrigado.

Resposta:

Ambas as locuções verbais pertencem à linguagem coloquial e podem ser consideradas correctas do ponto de vista gramatical, apesar de, no Brasil, ser mais recorrente «vem chegando», com o sentido de «está chegando». Em vez disso, em Portugal, salvo algumas excepções a nível regional, usa-se a locução «está a chegar».

Chamamos ainda a atenção para, na frase em questão, o uso inadequado da preposição a, em «a tudo superei», pois o verbo superar não rege qualquer preposição. A frase deveria ser «Tudo superei, fui além das saudades». Contudo, tratando-se de um registo artístico, é de salientar que o autor tem certas liberdades quanto ao uso da língua e pode infringir, propositadamente, certas regras gramaticais.

Sempre ao dispor.

Pergunta:

Gostava que por favor me dissessem qual o significado da expressão «a pau com os ursos».

Obrigada.

Resposta:

Não encontrámos a expressão em causa nos vários dicionários de provérbios consultados, incluindo o Dicionário de Provérbios, Adágios, Ditados, Máximas, Aforismos e Frases Feitas, de Maria Alice Moreira dos Santos. No Dicionário Aberto de Calão e Expressões Idiomáticas, de José João Almeida, aparece uma referência à expressão «dançar pau com os ursos», mas a entrada está incompleta e não apresenta significados. Ao fazermos pesquisa em motores de busca em linha encontramos bastantes ocorrências da expressão «jogar (ao) pau com os ursos», mas, novamente, não encontramos nenhum significado. Pela avaliação dos contextos em que ocorre, é possível deduzir vários significados: o primeiro é sinónimo das expressões «ir plantar batatas», «ir catar macacos», ou seja, «fazer algo de carácter diferente do que se propõe», o segundo é sinónimo de «ficar a ver navios», ou seja, «não obter o que se espera», e ainda poderá significar «não saber fazer nada», mas estas são interpretações intuitivas, obviamente sem rigor científico, e muitas outras podem surgir, o que é típico do folclore.

Pergunta:

À partida, o prefixo eco- não se separa com hífen, conforme o Ciberdúvidas regista numa resposta. A minha dúvida refere-se à palavra "eco-oficina". Nos exemplos apresentados, mesmo quando seguido de vogal, não existe hífen. Contudo, se essa vogal for um o, qual será a melhor grafia: "eco-oficina", "ecoficina", ou "ecooficina"?

Resposta:

Segundo o Acordo Ortográfico de 1945, «emprega-se o hífen em palavras formadas com prefixos de origem grega ou latina, ou com outros elementos análogos de origem grega (primitivamente adjectivos), quando convém não os aglutinar aos elementos imediatos, por motivo de clareza ou expressividade gráfica, por ser preciso evitar má leitura, ou por tal ou tal prefixo ser acentuado graficamente».

Contudo, como referido no Acordo Ortográfico de 1990, não se emprega o hífen «nas formações em que o prefixo ou pseudoprefixo termina em vogal e o segundo elemento começa por vogal diferente, prática esta em geral já adotada também para os termos técnicos e científicos. Assim: antiaéreo, coeducaçao, extraescolar, aeroespacial, autoestrada, autoaprendizagem, agroindustrial, hidroelétrico, plurianual». Emprega-se, sim, o hífen «nas formações em que o prefixo ou pseudoprefixo termina na mesma vogal com que se inicia o segundo elemento: anti-ibérico, contra-almirante, infra-axilar, supra-auricular; arqui-irmandade, auto-observação, eletro-ótica, micro-onda, semi-interno». São excepção a esta regra as formações com o prefixo co-: «este aglutina-se em geral com o segundo elemento mesmo quando iniciado por o: coobrigação, coocupante, coordenar, cooperação, cooperar, etc.»

Sumariando, segundo o Acordo de 1945, emprega-se o hífen em casos como extra-escolar, por exemplo, mas segundo o Acordo de 1990 não, deve grafar-se extraescolar. Ambas as formas são lícitas e coexistem neste momento. Relativamente a sufixos que terminam numa vogal idêntica à do elemento que precedem, em ambos os acordos, a grafia aconselhada é com hífen, log...