Alexandra Soares - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Alexandra Soares
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Licenciada em Línguas e Literaturas Modernas — Estudos Portugueses e Ingleses, pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Professora de Português.

 
Textos publicados pela autora
<i>Gramática Derivacional do Português</i> (2.ª edição)
Por Graça Rio-Torto, Alexandra Soares Rodrigues, Isabel Pereira, Rui Pereira e Sílvia Ribeiro

Segunda edição, três anos depois do lançamento desta obra, assim resumida na respetiva sinopse,  nas páginas da Imprensa da Universidade de Coimbra:

 «Nesta Gramática Derivacional descrevem-se os mecanismos, os recursos e os produtos de formação de palavras do português contemporâneo, usando uma linguagem acessível mas assente em aturada investigação por parte dos seus autores, docentes universitários com larga experiência em pesquisa sobre o léxico. Com base nos dados do português europeu e em alguns do português do Brasil, percorrem-se os processos de sufixação (construção de nomes, de adjetivos e de verbos), de prefixação, de composição (erudita e vernácula) e de construção não concatenativa (cruzamento, truncação, siglação, acronímia). A morfologia e a semântica das palavras construídas – sejam isocategoriais ou heterocategoriais – são analisadas tendo em conta as bases que as compõem, os afixos que nelas ocorrem, os processos e as restrições de combinatória, e as áreas denotacionais dos produtos. Precede a descrição dos diferentes paradigmas u...

<i>Gramática Derivacional do Português</i>
Por Graça Rio-Torto, Alexandra Soares Rodrigues, Isabel Pereira, Rui Pereira e Sílvia Ribeiro

Trata-se de uma obra marcante para o estudo da estrutura e da formação de palavras em português, tal como sublinha Ana Maria Brito, linguista e professora da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, na recensão que em 2014 lhe dedicou (Revista de Estudos Linguísticos da Universidade do Porto, Vol. 9, 2014, págs. 167- 17):

«O livro Gramática Derivacional do Português, publicado em 2013 pela Imprensa Universitária da Universidade de Coimbra, é uma obra importante no panorama da Linguística Portuguesa por várias razões: por um lado, porque é um livro abrangente sobre a formação de palavras em Português, incluindo o estudo da afixação, da composição, da conversão e de processos não afixais, como a amálgama, a truncação, a siglação, entre outros; em segundo lugar, porque representa um trabalho de equipa, reunindo especialistas em cada um dos processos referidos, um trabalho dirigido e orientado pela Prof. Graça Rio-Torto desde há sensivelmente vinte anos, no quadro das atividades do Centro de Estudos de Linguística Geral e Aplicada (CELGA), uma Unidade I&D da Fundação para a Ciência e Tecnologia, sediada na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra desde 1966.»

Assinale-se que, à data de publicação da presente nota, a Gramática Derivacional do Português se encontra disponível em&#...

Pergunta:

As palavras semana, hora e minuto devem ser classificadas morfologicamente como nomes comuns, ou coletivos?

Resposta:

Antes de mais, deve ser consultada esta resposta de Eunice Marta e Edite Prada.

Parece-me que semana, hora e minuto são palavras que designam conjuntos específicos, motivo pelo qual não os consideraria nomes coletivos.

Uma semana designa exatamente um conjunto de sete dias, que decorrem numa sequência própria, e não qualquer outro conjunto de dias. De igual modo, hora e minuto definem conjuntos rigorosos de minutos e segundos, não correspondendo verdadeiramente à noção dada, por exemplo, por Cunha e Cintra, na Nova Gramática do Português Contemporâneo («substantivos que, no singular, designam um conjunto de seres ou coisas da mesma espécie», 178).

Neste sentido, poderemos também consultar as definições dadas pelos dicionários e encontraremos, por exemplo, no Dicionário Houaiss, a referência a hora como um «Segmento de tempo equivalente a 60 minutos e vigésima quarta parte de um dia solar», isto é, não pelo conjunto de minutos que a constitui mas pela parte que ela própria é de um todo. Do mesmo modo, minuto é definido como «unidade de medida do tempo equivalente a 60 segundos ou 1/60 da hora» e, por sua vez, semana como «período de sete dias fixado pelo calendário; espaço de sete dias consecutivos».

Pergunta:

Parece-me que houve um engano na resposta à consulta de Irene Maria, em 15/3/2012. O verbo apetecer tem, entre outros significados, o de «agradar», que se ajusta muito bem à frase apresentada.

Dessa forma, a oração «ir ao baile» não poderá ter outra função sintática que a de sujeito da oração principal, representada esta justamente pelo verbo «apetecia» acompanhado pelo pronome lhe, que exerce a função de complemento indireto.

É claro também que é muito discutível o recurso usado de substituir apetecer por «querer», no caso em apreço, pois análise sintática não se faz por substituição, mas deve-se fazer tendo em conta o que realmente se apresenta na frase.

Creio que o assunto merece outro exame.

Resposta:

Apesar de não me parecer que o verbo apetecer aqui tenha necessariamente o significado de «agradar», esse facto não impede de reconhecer que o consulente terá razão, uma vez que o segmento «ir ao baile» respeita as regras de aplicação de teste enunciadas na Gramática da Língua Portuguesa, de Maria Helena Mira Mateus e outros (páginas 283 e 284), segundo as quais o sujeito «pode ser substituído por uma forma tónica neutra do pronome demonstrativo em posição pré-verbal, se for de natureza frásica».

Assim, teríamos:

«Apetecia-lhe ir ao baile.» = «Apetecia-lhe isso.» = «Isso apetecia-lhe.»

Sujeito: «ir ao baile» (= «isso»)

Predicado: «apetecia-lhe».

Objeto indireto (ou complemento indireto): «lhe».

Pergunta:

Gostaria de saber o porquê de a palavra cotonete se pronunciar "cótónéte" como indicaram numa resposta anterior.

E a palavra cotonaria? Pronuncia-se igualmente "cótónaria"?

Resposta:

Segundo o Dicionário Houaiss, a palavra cotonete provém de uma marca registada que acabou por designar o seu género, sendo formada a partir da palavra inglesa para algodão (cotton), à qual se juntou -ete. Esta origem da palavra poderá explicar a sua pronúncia como cótónéte, [kɔtɔnɛtɨ], uma vez que as marcas recorrem com frequência a sonoridades que afastam as palavras das regras de acentuação de uma língua, sobretudo quando formadas a partir de outras estrangeiras.

Apesar de esta palavra não surgir em muitos dicionários, poderá eventualmente aparecer com a acentuação regular da língua portuguesa, [kutunɛtɨ], o que não é, no entanto, usual.

Quanto a cotonaria, parece-nos que deverá pronunciar-se [kutunɐɾiɐ], seguindo as regras de acentuação da língua portuguesa, sendo distinta de cotonária, quer em pronúncia, quer em significado.