Alexandra Soares - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Alexandra Soares
Alexandra Soares
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Licenciada em Línguas e Literaturas Modernas — Estudos Portugueses e Ingleses, pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Professora de Português.

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Como se pronuncia o plural da palavra euro?

Resposta:

A pronúncia da palavra euros, em português, deveria seguir as regras gerais do plural das palavras.

Sendo assim, ler-se-ia [ewruʃ]. Contudo, a pronúncia desta palavra não reúne consensos, ouvindo-se frequentemente também [ewroʃ], talvez pelo facto de a sua forma singular se assemelhar ao elemento euro-, em palavras como euro-africano.

A este respeito poderá ser também consultada esta resposta.

Nota: No Brasil pronuncia-se [ewrus], pronúncia maioritária, ou [ewruʃ], típica de alguns lugares como o Rio de Janeiro e o Pará (informação fornecida por Luciano Eduardo de Oliveira).

Pergunta:

Qual a diferença entre morfema e palavra?

Resposta:

Apesar de o termo morfema não surgir em obras mais recentes, é possível encontrá-lo em obras como o Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, da Academia das Ciências de Lisboa, ou a Nova Gramática do Português Contemporâneo, de Celso Cunha e Lindley Cintra.

Na versão abreviada da gramática de Cunha e Cintra (Breve Gramática do Português Contemporâneo, Ed. Sá da Costa, 1985), na página 57 e seguintes, encontramos a referência a palavras como unidades de som e significado, as quais podem ser constituídas por um ou mais morfemas. Assim, morfemas serão unidades significativas mínimas que podem realizar-se como palavras ou não.

Por exemplo, a palavra escolas é constituída por dois morfemas: escola, que por si só constitui uma palavra e pode vir a constituir outras palavras; -s, que marca o plural mas não constitui, por si só, uma palavra, ou seja, não tem uma existência autónoma.

Os morfemas, para além de poderem ter ou não uma existência autónoma, classificam-se como lexicais, quando «têm uma significação externa, porque referente a factos do mundo extralinguístico» (Cunha e Cintra), ou gramaticais, quando a sua significação é «interna, pois deriva das relações e categorias levadas em conta pela língua» (Cunha e Cintra).

No exemplo dado, escola é um morfema lexical, e -s é um morfema gramatical. Convém ainda referir que há morfemas gramaticais que também podem ser palavras, como as preposições ou os determinantes.

Pergunta:

Gostaria de saber qual o sujeito da frase «Apetecia-lhe ir ao baile».

Também gostava de saber que função sintática desempenha a expressão «ir ao baile» de acordo com o novo dicionário terminológico.

Resposta:

Na frase citada pela consulente, o sujeito é nulo subentendido, pois o seu referente é perceptível pela flexão verbal e pelo pronome (neste caso, será um sujeito na terceira pessoa do singular, ele ou ela). A sua compreensão poderá ser facilitada se substituirmos o verbo apetecer pelo verbo querer: «[Ele/Ela] queria ir ao baile.»

Relativamente ao segmento «ir ao baile», este desempenha a função sintática de complemento direto, uma vez que todo o segmento é selecionado pelo verbo (apetecer), sendo substituível pelo pronome demonstrativo na sua forma átona (o) ou tónica (isso).

Pergunta:

Na frase «Devo a minha vida a meus pais, que ficaram maravilhados com o meu nascimento, e também ao nosso grande amigo médico Luís que assistiu ao parto e evitou que eu morresse», a oração «Devo a minha vida a meus pais e também ao nosso grande amigo médico Luís» pode ser considerada oração subordinante, e as orações «que ficaram maravilhados com o meu nascimento» e «que eu morresse», subordinada relativa explicativa e subordinada integrante, respetivamente?

Resposta:

A frase proposta pela consulente apresenta uma diversidade de relações de subordinação e coordenação. Assim:

a) As frases «Devo a minha vida a meus pais e também ao nosso grande amigo médico Luís» são coordenadas copulativas.

b) Em «Devo a minha vida a meus pais, que ficaram maravilhados com o meu nascimento», a frase sublinhada é subordinada relativa explicativa, tal como a frase «que assistiu ao parto», a qual deverá ser precedida de vírgula.

c) A frase «que eu morresse» será subordinada completiva, de acordo com a atual designação, que corresponde à oração integrante da gramática tradicional luso-brasileira.

Nota: Para obter informação adicional acerca das frases subordinadas completivas, poderá ser consultada esta resposta e, ainda, a Gramática da Língua Portuguesa, de Maria Helena Mira Mateus e outros (Editorial Caminho, 2003, pp. 595 e seguintes).

Pergunta:

Como devemos pronunciar o e da sílaba tônica das formas verbais dissemos, quisemos, pudemos, repusemos, trouxemos, coubemos e outros verbos irregulares da segunda conjugação? Devemos abri-lo, ou fechá-lo?

Resposta:

Relativamente à pronúncia da sílaba tónica das formas verbais citadas pelo consulente, é possível pronunciar o e como aberto,[ɛ], ou semifechado, [e].

Se, nas zonas consideradas de pronúncia-padrão do português europeu, é mais comum pronunciá-lo como aberto, o facto é que noutras regiões há quem o pronuncie como semifechado, o que também acontece no português do Brasil.

Atendendo a estas variantes do português, o novo Acordo Ortográfico (Base IX: da acentuação gráfica das palavras paroxítonas) determina, pois, que seja facultativo assinalar com acento agudo as formas verbais de pretérito perfeito do indicativo, para as distinguir das correspondentes formas do presente do indicativo (amamos, louvamos).

Assim, parece-nos correto afirmar que ambas as pronúncias, [ɛ] e [e], são admissíveis.