A. Tavares Louro - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
A. Tavares Louro
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Licenciado em Línguas e Literaturas Modernas — Estudos Portugueses e Franceses pela Faculdade de Letras de Lisboa. Professor de Português.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Qual é o aumentativo de padre, sacerdote da Igreja Católica, do latim pater («pai»)?

Resposta:

O substantivo padre tem como aumentativo padralhão, com uso pouco frequente. Foi formado de acordo com o modelo padralhada, que significa grupo de padres. Padralhão significa «padre alto e forte».

Pergunta:

É usado em Portugal, de forma não muito constante, o adjectivo "pan-glosseico" e o advérbio de modo "pan-glosseicamente" no sentido de inclusão de um todo, ao modo exagerado do mestre Pan-Gloss do famoso romance Candide, de Voltaire. Podem-se usar? É legítima esta utilização com os aportuguesamentos supracitados?

Agradeço, desde já, a vossa futura resposta, que aguardo.

Resposta:

A palavra derivada de Pangloss (é esta a forma do nome, sem hífen) deve ser panglossiano, que já foi usada por Camilo Castelo Branco.

Pergunta:

Desde pequeno que me ensinaram que o nome do continente único que precedeu os cinco continentes de hoje era "Pangea" (Pan — «toda» + Gea — «Terra»). Aparece, agora, em diversos meios de comunicação social, "Pangeia" com um "i". Isto faz sentido?! Creio que não, apesar de lermos, de facto, em Portugal, como na nova palavra.

Agradeço, desde já, a vossa futura resposta, que aguardo.

Resposta:

A Enciclopédia Público, de edição recente, regista a palavra Pangea. Não haverá, portanto, inconveniente no uso desta forma. Em contrapartida, o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, editado pelo Círculo de Leitores, regista a palavra Pangeia (Pangéia, na edição brasileira). Dada a qualidade deste dicionário, muitos indivíduos podem estar a tomá-lo como modelo.

Pergunta:

Gostaria de saber qual o aumentativo da palavra folha e seu diminutivo.

Muito obrigada.

Resposta:

A palavra folha tem como diminutivos sintéticos folhinha, folhazinha, folhita, folhazita e, depreciativamente, folheca e folhazeca.

Não tem uso o aumentativo sintético, embora este seja, em princípio, "folhona". Apenas usamos o aumentativo analítico («folha grande», «folha espessa», etc.) de acordo com cada caso particular.

Pergunta:

Gostaria de saber como é feita a divisão silábica da palavra gaiola. Tem a mesma regra que a palavra rio?

Resposta:

Os falantes da língua portuguesa pronunciam estas palavras de acordo com a sua região ou de acordo com o seu idiolecto (ou maneira pessoal de falar).

Poderemos ouvir a palavra gaiola como "gài-ó-la", "gà-i-ola" ou "gâ-i-óla". As regras ortográficas não contrariam qualquer uma destas realizações fonéticas, dado que não usamos nenhum acento gráfico para distinguir o [a] aberto do [a] fechado, em posição átona. Já o "i" parece estar numa situação de ambivalência, porque pode formar ditongo tanto com o "a" de "ga" como com o "o" de "ola" (o ditongo crescente [jɔ], com "o" aberto). Em todo o caso, o Dicionário Unesp do Português Contemporâneo propõe a divisão silábica "gai-o-la", que, podendo não ser válida do ponto de vista da descrição, o é certamente para efeitos de translineação, que é o que interessa, por exemplo, no contexto da aprendizagem da escrita.

Quanto à palavra rio, esta é realizada oralmente de duas formas: "ri-u" e "riu", especialmente na região de Lisboa. A grafia oficial rio corresponde à primeira forma "ri-u". O conjunto "io" poderia ser ser classificado como um ditongo decrescente, que se transcreve como [iw].

Não se vê, portanto, relação entre a silabação de gaiola e a de rio. Mesmo que em ambas as palavras se formem ditongos, no primeiro caso poderemos ter um ditongo decrescente (g[aj]ola) ou crescente (ga[jɔ]la); no segundo caso, só um ditongo decrescente é possível — r[iw].