A. Tavares Louro - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
A. Tavares Louro
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Licenciado em Línguas e Literaturas Modernas — Estudos Portugueses e Franceses pela Faculdade de Letras de Lisboa. Professor de Português.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Gostaria de saber qual a origem da expressão «vi-me e desejei-me...».

Resposta:

«Vi-me e desejei-me» é uma espressão sintáctica correspondente a «Vi-me em grandes dificuldades e desejei ver-me livre delas». O verbo, na forma reflexa, revela o empenhamento do sujeito nesta situação. Estas formas são muito frequentes para revelarem a intensificão da acção do sujeito. Exemplo: «Ele dedicou-se muito ao trabalho.»

Pergunta:

Por que processos de formação de palavras é que as palavras esgaravatar e acontecimento passaram para serem formadas?

Resposta:

O verbo esgaravatar teve origem no substantivo garavato e, possivelmente, também no substantivo garaveto.

Garavato é um pau com um gancho que serve para apanhar fruta; garaveto é um ramo seco e delgado. Estas palavras derivaram do vocábulo pré-romano carba, que também significa ramo.

Do substantivo garavat(o) acrescido do prefixo es- e do sufixo formador de verbos -ar foi formado o verbo esgaravatar: es-garavat -ar.

O substantivo acontecimento provém do radical do verbo acontec(er) acrescido da vogal de ligação -i- e do sufixo formador de substantivos designativos de acção  ou de resultado de acção -mento: acontec-i-mento.

Admite-se que o verbo acontecer provenha da forma latina hipotética *contingescere, derivada da forma clássica contingere.

Pergunta:

As seguintes frases são metáforas: Todos os anos é a mesma coisa, mas isso só nos assalta quando os centros comerciais se enchem de enfeites natalícios; quando os jovens matinais invisíveis começam a atafulhar as nossas caixas de correio; depois da purificação de um sorriso; as dádivas estão à distância de um clique na Internet; os canais e programas infantis explodem em anúncios; infectados pelo espírito do Natal venal.

Resposta:

As palavras podem ser usadas tanto em sentido literal (ou denotativo) como em sentido figurado (ou conotativo).

As figuras de estilo podem ser: figuras de gramática, figuras de pensamento e tropos (ou imagens).

A metáfora faz parte dos tropos e é uma figura que muda o sentido denotativo (ou literal) em sentido conotativo (ou representativo) por virtude de alguma semelhança.
De um modo mais prático, diremos que uma metáfora é uma comparação abreviada.
As frases apresentadas são de um modo geral denotativas (ou literais).

Apenas nos parecem com algum sentido figurado (ou conotativo) as seguintes expressões: «depois da purificação de um sorriso», porque a palavra purificação está usada com um nível mais elevado do que se significasse apenas um trabalho de purificação química; e «os programas infantis explodem», porque a explosão não corresponde a um fenómeno físico ou químico, mas a uma perturbação causada nos ouvintes.

Pergunta:

Qual é o grau aumentativo da palavra castelo?

Resposta:

Em linguagem infantil, poderemos ouvir "castelão" como aumentativo sintético de castelo.

Acontece que a palavra castelão possui outros significados, como: «senhor», «governador ou alcaide de um castelo».

Normalmente, usamos aumentativos analíticos tais como, por exemplo; «castelo alcantilado», «altaneiro», «grandioso», «enorme», etc.

Pergunta:

Qual a origem da expressão «bater o couro»?

Resposta:

A expressão bater o couro pode ter vários significados de acordo com os vários contextos. Assim, poderá significar: «bater sola», «empenhar o próprio corpo em trabalhos duros ou em desportos violentos» e «suportar esforços na própria pele».

Em linguagem futebolística, é equivalente a: «pontapear a bola, especialmente cobranças de pontapés livres ou em reposições da bola em jogo».

Bater o couro poderá ser ainda uma forma alternativa de bater a coura (casaco de pele), que tem o significado de «fugir».