A. Tavares Louro - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
A. Tavares Louro
A. Tavares Louro
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Licenciado em Línguas e Literaturas Modernas — Estudos Portugueses e Franceses pela Faculdade de Letras de Lisboa. Professor de Português.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Gostaria de saber porque é que os sons "pl" em latim foram trazidos para o português na forma "ch".

Exemplos:

Plus -> Chus («Mais»)
Plumbus -> Chumbo
Pluvia -> Chuva

Qual o significado desta mudança que a mim me parece tão radical?

Resposta:

Muito francamente, também me parece que a evolução de pl para tch > ch não foi directa. Deve ter sido pl > plh > pch > tch > ch.

Lembro que, no Norte de Portugal, muitos falantes dizem "tchuba", que é uma forma divergente de chuva.

Pergunta:

Na frase «Eu brinco ao faz de conta», o verbo brincar é intransitivo, ou transitivo indirecto?

Resposta:

O verbo brincar é usado com maior frequência como intransitivo, porque é, por si só e muitas vezes, suficientemente esclarecedor. Exemplos: «As crianças brincavam alegremente», «Os meus netos e os da minha irmã brincam em conjunto todas as tardes.»

Frases como «As crianças brincavam aos doutores» ou «Eu brinco ao faz-de-conta» são construções transitivas indirectas.

O verbo brincar é também transitivo directo quando significa «decorar» e «embelezar».

Pergunta:

Quero saber o aumentativo e o diminutivo das palavras mesa, fezes e campo.

Resposta:

A palavra mesa pode ter como diminutivos sintéticos: mesinha, mesita, mesazinha, mesazita e, depreciativamente, mesazeca,

Normalmente, usamos  formas aumentativas analíticas: «mesa enorme», «mesa pesada», ou ainda, «mesa grandona», «mesa pesadona», etc.

Pontualmente, poderão surgir as formas sintéticas: mesona e mesorra.

A palavra fezes raramente se usa no grau diminutivo. No entanto, em relação aos doentes e às crianças, que nos merecem mais cuidados, poderemos dizer fezesitas, fezesinhas e, depreciativamente, fezesecas.

A palavra fezes raramente é usada no grau aumentativo sintético. São mais frequentes as formas analíticas, como, por exemplo, «fezes abundantes».

Em relação à palavra campo, usamos como diminutivos sintéticos: campinho, campito, campozinho, campozito e, depreciativamente, campozeco.

No grau aumentativo, usamos, normalmente, formas analíticas adequadas a cada caso concreto, como, por exemplo: «campo enorme», «campo extenso», «campo a perder de vista», etc.

Pergunta:

Meu sogro reclama todos os dias dizendo que os jornalistas são burros por falarem «a campo» .

O contexto é o seguinte:

«A seleção brasileira vai a campo enfrentar a Bolívia.»

«O Flamengo vai a campo e enfrenta o Vasco na final.»

Eu não concordei, mas tenho dúvidas e não soube explicar. Afinal, ele está certo?

Resposta:

«Ir a campo» é uma expressão do tempo da cavalaria. Nessa época, nasceram os vocábulos campeador e campeão, que significam aquele que combate em campo fechado nos torneios, muitas vezes, em defesa da sua amada.

Estamos, portanto, no domínio das lutas de cavalaria que têm servido de base ao vocabulário usado no domínio da linguagem desportiva contemporânea. Vejam-se expressões e metáforas bélicas muito ao gosto do chamado futebolês com «militar nos escalões secundário», «tiro», «pé canhão» , «petardo», «bomba», «fuzilar o guarda-redes», «batalha», «pugna», etc., etc.

Pergunta:

Gostaria de saber o significado destes provérbios:

«Quem tem telhados de vidro não atira pedras ao do vizinho.»

«A perseverança tudo alcança.»

Resposta:

1 – «Quem tem telhados de vidro não atira pedras ao do vizinho.»

Como todos temos as nossas fraquezas, não devemos humilhar os outros, porque eles também nos poderão humilhar.

2 – «A perseverança tudo alcança.»

Aqueles que são persistentes poderão alcançar o que desejam; aqueles que não são lutadores nunca triunfarão.