A. Tavares Louro - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
A. Tavares Louro
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Licenciado em Línguas e Literaturas Modernas — Estudos Portugueses e Franceses pela Faculdade de Letras de Lisboa. Professor de Português.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Gostaria de saber se a palavra trânsito pode ser considerada como nome colectivo.

Obrigada!

Resposta:

A palavra trânsito possui diversos significados.

Trânsito será um substantivo colectivo se tiver o significado de «conjunto de veículos circulando numa dada zona viária».

Pergunta:

Qual o aumentativo de som? Será legítimo escrever "somzão"/"sonzão"?

Obrigado!

Resposta:

De acordo com as regras ortográficas da língua portuguesa, é possível escrevermos a palavra sonzão. A palavra "somzão" não respeita essas mesmas regras. 

Como o som tem influência nos aparelhos auditivos e nos sistemas nervosos dos ouvintes, usamos o grau aumentativo de som com expressões analíticas diversas, que são preferíveis, tais como: «som muito agudo», «som muito intenso», «som muito prolongado», «som muito irritante», «som insuportável», «som ensurdecedor», etc.

Pergunta:

Qual é o aumentativo de casca?

Resposta:

O aumentativo sintético de casca dá lugar a uma cacofonia ou a um cacófato, som desagrável, ridículo ou indecoroso.

Por este motivo, os falantes procuram formas analíticas como: «casca muito grossa», «muito espessa», «muito dura», etc.

Pergunta:

Qual o significado conotativo e denotativo do provérbio «O que não tem remédio, remediado está»?

Resposta:

Este provérbio é denotativo porque corresponde a uma declaração pragmática, visto que a experiência nos demonstra que aquilo que não tem remédio não poderá ser remediado.

O verbo estar encontra-se no presente do modo indicativo para dar mais consistência e intensidade a uma situação irremediável.

Cf. Palavra da semana: remediado

Pergunta:

Qual o significado conotativo e denotativo do provérbio «O que o berço dá, a tumba leva»?

Resposta:

Este provérbio é conotativo porque contém uma figura de estilo denominada metalepse, que é uma forma de metonímia em que o continente sugere o conteúdo. O berço e a tumba são referidos em vez dos corpos que contêm.

Em sentido figurado, pretende dizer que as qualidades e as imperfeições que cada um adquire durante a gestação e o desenvolvimento permanecem até ao fim da vida. Noutra perspectiva, é possível também ter em atenção que, na cultura portuguesa, a qualidade e a riqueza do berço evidenciam a classe social da família a que a criança pertence. Simbolicamente, quando algum indivíduo é filho de uma família rica, dizemos: «Ele nasceu em berço de ouro.» Tendo em conta este dado cultural, poderemos dizer que o berço nos pode diferenciar, mas que a tumba nos torna iguais.

Quanto ao sentido denotativo1, este será equivalente ao sentido literal do provérbio. Uma vez que normalmente os provérbios se caracterizam pela linguagem figurada, limitarmo-nos a descodificar-lhes o sentido denotativo acaba por ser empobrecedor.

1 No Dicionário Houaiss, uma das definições de denotação é precisamente a de «vínculo direto de significação (sem sentidos derivativos ou figurados) que um nome estabelece com um objeto da realidade».