Manuel S. Fonseca oferece-nos a obra Pequeno Dicionário Caluanda, assumindo o pioneirismo no concernente ao esforço em concentrar um conjunto de termos vocálicos utilizados nas falas de Luanda. É uma forma de enriquecimento terminológico da língua portuguesa, segundo o autor, conferindo-lhe humor, musicalidade, existindo prazer em utilizá-la. A fala característica de Luanda1 não é um facto novo, já há muito que se incrementou e ultrapassou fronteiras, tanto em Portugal como no Brasil, ou, até, em Moçambique. A sua afirmação crescente veio potenciar o interesse cada vez maior em estudá-la e conhecê-la e, por este motivo, esta obra tem toda a pertinência. Para o seu enraizamento e operacionalização têm contribuído a literatura, a música, a imprensa, redes sociais, blogues, caixas de comentários dos jornais angolanos online, mas, sobretudo, a atualização dada pelos falantes. Esta obra é «Um dicionário que privilegiou a comunicação, a troca lexical quotidiana dos angolanos, o modo como se fala, hoje, na rua e em casa».
Sendo a língua portuguesa o idioma oficial de Angola, mas também um elemento de unidade, de comunicação e cultura, a perspetiva de um povo e a prova material do seu pensamento, através do registo oral e escrito, o conhecimento de nova terminologia, que lhe dá um carácter próprio, é de suma importância para que se conheça o seu povo e a sua língua. Vocábulos como amigar (viver maritalmente), bala (dinheiro), banzo (espantado), besugo (um branco saloio), bitola (cerveja), bué (muito), bulir (trabalhar), caçula (o filho mais novo), cafuné (carícia que se faz na cabeça de alguém), galar (olhar sedutoramente para alguém), ganza (estado de êxtase), kizomba (dança, farra), kuduro (estilo musical e dança), tropa (gangue) são alguns dos termos que se podem encontrar no Pequeno Dicionário Caluanda, obra centrada no significado dos termos em português, mas, igualmente, com alguns afloramentos etimológicos em certos casos. E que termina com um apelo direto a quem o leia:
«Seja autor deste dicionário. Este Pequeno Dicionário Caluanda é uma obra em progresso. Fez-se aqui uma primeira recolha e é, por isso, natural que muitos termos, nascidos do atual quadro social, económico e cultural de Luanda, não tenham ainda sido reconhecidos e contemplados. Querendo responder à dinâmica criativa da língua, apelamos aos leitores que nos enviem sugestões de novos termos, acompanhados da respetiva explicação, para um e-mail que criámos para o efeito. Escreva, por favor, para caluanda@guerraepaz.net e ajude-nos a melhorar a próxima edição deste dicionário.»
1 Cf. Mambos da Lingua – o tu-cá-tu-lá do português de Angola + O português em Angola
Este é um espaço de esclarecimento, informação, debate e promoção da língua portuguesa, numa perspetiva de afirmação dos valores culturais dos oito países de língua oficial portuguesa, fundado em 1997. Na diversidade de todos, o mesmo mar por onde navegamos e nos reconhecemos.
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