O romance O Vacão sem Fajeca é o romance-estreia do jornalista José Bento Amaro, que o assina apenas com o primeiro e último nomes. Trata-se de um enredo passado no submundo do crime onde prolifera a terminologia típica usada no meio, imbuída do jargão do meio.
Essencialmente, o interesse da obra, para além da viagem ao submundo do crime, é dar-nos a conhecer toda uma panóplia de vocábulos desconhecidos de grande parte dos leitores, mas tão comum entre quem vive – e atua – à margem da lei.
A obra pretende ser não só a apresentação da criminalidade portuguesa de uma dada época, como também um contributo para que as forças policiais melhor a entendam.
O jargão marginal é um importante dado linguístico para quem deseja entender o fenómeno.
A recolha do vocabulário levou anos, segundo o autor nos informa. Também certas situações são inspiradas na vida real. O assunto do livro foi um mergulho para a realidade das cadeias portuguesas no período entre os anos 70 e 90 do século passado. Os códigos de conduta são igualmente aflorados.
O glossário presente no início do livro é um elemento indispensável para perceber o seu assunto e a linha condutora do seu desenvolvimento.
Dentro de muitos dos vocábulos, citamos alguns: abafador (colar), acarar (confessar), albarda (sobretudo), andante (carteira), apertante (corda), apitante (denunciante), Arca de Noé (casa de penhores), badejo (bacalhau), barbeado (lençol), baril (bom), belfo (cão de guarda), bufar (denunciar) cabides (orelhas), caga-lumes (guarda-noturno), cenário (fato), chinar (cortar alguém com uma faca), dar de frosque (fugir), despedir (deitar fora), drope (miserável, pedinte), escadunfa (escada), engavetar (prender), espianto (fuga), estilha (dinheiro), fachar (arrombar), fajeca (medo), fateixa (mão), gabéu (chapéu), gadanhas (mãos), galrar (confessar), golfe (roubo), harmónio (maço de notas), hóspede (piolho), hotel (cadeia), irmãs (nádegas), intruja (recetador), invejoso (donas de casa de penhores), jarda (produto do roubo), jarra (velho), judite (artolas, júcia, agente da polícia judiciária), lama (prata), lanceiro (carteirista), leilão (roubo), lodo (ouro), Mata-Grande (Lisboa), macanho (tabaco), mãe (fechadura), naia (mãe), negra (noite), noé (bêbado), oi-oi (marinheiro), onça (envelope),ostreiro (o que rouba montras), pasma (polícia fardado), peçonha (tecido), punir (vender), quarto de olho (chefe de polícia), quinar (morrer), ramona (carro celular), raso (padre), rate (gazua), salto (passaporte), sardinha (navalha), sorna (ouro), tabuleta (a cara), teresa (corda fina), tirante (fio de ouro ou prata), ugar (gritar), unha da palma (ter habilidade para furtar), vacão (alentejano), vagarosa (cadeia), vidraças (óculos), xadrez (prisão), xonar (dormir), zarpar (fugir), zenir (andar depressa).
Este é um espaço de esclarecimento, informação, debate e promoção da língua portuguesa, numa perspetiva de afirmação dos valores culturais dos oito países de língua oficial portuguesa, fundado em 1997. Na diversidade de todos, o mesmo mar por onde navegamos e nos reconhecemos.
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