O manual Ensino da Leitura e da Escrita Baseado em Evidências é uma publicação da Fundação Belmiro de Azevedo, editado por Rui A. Alves e Isabel Leite e coordenado por Carlos Nadalim. Reúne um conjunto de textos que abordam assuntos relacionados com a política da leitura, a formação de professores e os contributos trazidos pela investigação em neurociências, psicolinguística e linguística, para uma melhor compreensão da aprendizagem da leitura. O seu objetivo principal é contribuir para a formação dos profissionais que atuam na área da alfabetização, uma vez que, segundo os editores desta obra, «o ensino da leitura e da escrita baseado em evidências pressupõe um reconhecimento triplo e a conformidade com um conjunto de princípios que garantem que o ensino decorre de forma eficaz, eficiente e significativa» (pág. 2).
Em termos estruturais, o manual está organizado em quatro partes, distribuídas por 23 capítulos, que abordam temáticas relacionadas com a leitura e o seu ensino, mas que não se circunscrevem às descobertas e investigação na área da psicolinguística, abordando e discutindo também assuntos relacionados com a política da leitura e com a formação de professores. Para além disto, esta publicação também contextualiza descobertas científicas, explicando as suas implicações para a prática pedagógica e dando exemplos concretos de atividades e materiais a utilizar na sala de aula.
A primeira parte (parte A) do manual é dedicada às noções fundamentais sobre o ensino da leitura e da escrita, tendo ainda como objetivo sintetizar os conceito-chaves relacionados com a leitura que um professor deve conhecer. Dos seis capítulos desta parte, salientamos o capítulo 2, da autoria da escritora e ex-ministra da Educação Isabel Alçada, que aborda as múltiplas vertentes das políticas de leitura, apontando aquelas que se têm revelado eficazes e sustentáveis e explicando o motivo com base em resultados de investigação e evidências empíricas.
A segunda parte (Parte B) foca-se naquilo que a criança pode descobrir sobre a escrita e a leitura antes de entrar na escola, isto é, na «literacia emergente». De entre os vários capítulos desta secção, destacamos o capítulo da autoria de Cecília Aguiar (Instituto Universitário de Lisboa) e Lourdes Mata (Instituto Superior de Psicologia Aplicada) sobre o desenvolvimento da literacia emergente na educação pré-escolar. Segundo estas autoras, «a intencionalidade do educador de infância é essencial para assegurar que todas as crianças, e especialmente aquelas que possam estar em desvantagem sociocultural, experienciam contextos de elevada qualidade, capazes de influenciar positivamente as suas competências de literacia emergente» (pág.143).
Na terceira parte (Parte C), designada "Aprendizagem da Leitura e da Escrita", explica-se como o nível de proficiência alcançado em cada um dos domínios da linguagem (desenvolvimento do vocabulário, conhecimento morfológico e sintático, consciência fonológica e fonética) é determinante para se aprender a pronúncia do que está escrito, compreender o que se lê e comunicar através da escrita. Aqui apresentam-se estudos que assentam na ideia de que o ensino da leitura e da escrita deve ser explícito e focado no ensino do código.
Por fim, na parte C, trata-se a compreensão do que se lê como dependente das competências de descodificação, como por exemplo a identificação das palavras, e das competências linguísticas. Nos capítulos 14 e 15, da autoria de Isabel Leite (Universidade de Évora) e de Ana Paula Vale (Universidade de Trás-os-Montes), discute-se o papel determinante da consciência fonémica na aprendizagem da leitura e escrita, bem como se aborda a eficácia dos métodos fónicos no início da aprendizagem. O final desta parte é dedicado às Dificuldades e Perturbações na Aprendizagem da Leitura e da Escrita. Nos capítulos finais demonstra-se que é nos processos linguísticos e nos circuitos neuronais que se encontram as principais alterações associadas a estas dificuldades.
Em suma, os textos reunidos neste manual oferecem ao seu leitor uma perspetiva moderna e consolidada sobre como promover o ensino da leitura e da escrita, revelando-se um precioso contributo para a melhoria de práticas de docência.
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