O Brevíssimo Dicionário dos Snobs, lançado em 2022, com a chancela da D. Quixote, é a mais recente obra de Rita Ferro.
Este dicionário, sobre termos designativos do comportamento e da visão do mundo dos snobs1, é apresentado como um trabalho não exaustivo nem académico, que pretende caracterizar de forma divertida a alta sociedade portuguesa (principalmente de Lisboa e Cascais) pelas particularidades das suas referências e do seu léxico: o que os snobs dizem e, sobretudo, o que não dizem. Assim, ao longo de mais de duas centenas de páginas, Rita Ferro enumera alfabeticamente e descreve características dos meios elitistas, como é o caso de diferentes espaços (Clube do Golf do Estoril, Discoteca Banana Power, por exemplo), de personalidades (Dom Duarte Pio de Bragança, José Roquette, Kiki Espírito Santo) ou de objetos (fruteiras, garfo, smoking).
A autora inclui também, como é de prever, expressões e vocábulos proibidos ou obrigatórios neste meio. São exemplos:
«Canção: acham “possidónio” nomear assim. Também não dizem “cantiga” ou “tema”; dizem “música” e resolvem o assunto, mesmo que tenha uma letra marcante.»
«Cuecas: nunca proferido no singular.»
«É indiferente: usam e abusam da expressão. Muitos fazem disso um modo de estar, por oposição ao dramatismo nacional.»
«É podre: expressão que significa “podre de rico”.»
«Possidónio: palavra muito própria deste grupo, que significa “piroso” ou "pretensioso” […].»
«Vermelho: dizem “encarnado” e ponto parágrafo, desconsiderando olimpicamente qualquer nuance cromática. Eliminação por morte súbita.»
Considerando com ironia que o livro se chama dicionário por snobismo – «deveríamos antes chamar-lhe "cábula"» (p. 16) –, a autora consegue iniciar o leitor nos segredos da alta sociedade, traçando um perfil em que aponta características mais ou menos conhecidas. De facto, a forma de falar, o léxico escolhido, as expressões selecionadas são, há muito, comentadas e frequentemente imitadas. Rita Ferro sabe, contudo, enquadrar e justificar o seu uso ou o seu significado real. E fá-lo, não só por ter experiência direta do ambiente em causa, mas também por, afinal, ter trabalhado sem cábulas, refletindo a sério, quando parece estar a brincar, e consultando diversas fontes bibliográficas, registadas no final do livro.
1 Esclarecendo na introdução a opção pela grafia anglófona, na entrada de snob, a autora cita o Ciberdúvidas da Língua Portuguesa – João Carreira Bom, "Snobe/esnobe", 04/08/1999 –, recordando que o aportuguesamento do anglicismo é snobe, em Portugal, e esnobe, no Brasil.
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