Pelourinho - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
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Registos críticos de maus usos da língua no espaço público.
Erro supersónico

A edição digital do Público inseriu, a meio da tarde de 6 de Setembro p. p., a notícia da France Presse que se reproduz a seguir. Algum tempo depois, substituiu-a por uma nova versão, igualmente atribuída à France Presse, que corrige alguns erros da primeira.

O que é uma metáfora? A metáfora consiste na identificação de uma área de referência, concreta, a uma outra área de referência, abstracta. Basicamente, a metáfora permite compreender uma coisa em termos de outra.

Sendo muitas vezes entendida exclusivamente como um ornamento retórico, a verdade é que a metáfora é intrínseca à maneira como pensamos o mundo, a partir da nossa experiência quotidiana — o que se reflecte na estrutura semântica da língua.

Sobre o falecimento de Luciano Pavarotti – no caso em apreço, ainda se tratava de notícias sobre o agravamento irreversível  do seu estado de saúde –, apareceu em diversos jornais portugueses «doenças cancerígenas», em vez de «doenças cancerosas». Tudo porque quem respigou a informação original

Até há algum tempo, o papa e o dalai-lama tinham idêntico tratamento nos meios de comunicação portugueses. Não quer isso dizer que não houvesse um ou outro jornalista que ignorasse a semelhança da função e da designação. O que acontecia é que havia pelo menos um jornalista entre esse desconhecedor e o público que evitava a divulgação da asneira. Por motivos ...

Não é nada improvável ouvirmos este pedaço de conversa enquanto tomamos café ao balcão:

«Podes mandar-me os mpeg zipados. Eu levo wireless e faço-te o upload disso de lá.»

Estão aí, na boca de toda a gente: os downloads, os MP3, os chats, as drives, os backups e os screenshots; os registos de login; os conteúdos em RSS e podcast; os bytes, os mega, os giga

«(...) A criança apresentava a pele muito escura, e as muitas desculpas dadas pela mulher (de que também tinha descendentes directos negros) já não o convenciam. A “morte súbita” pode-lhe ter surgido como a única solução, até porque o pretenso pai, sob o efeito da morte do filho, não voltaria a negar a paternidade.»1

Para evitar o disparate, bastava à autora da notícia lembrar-se de que descendente é para baixo e ascendente é para cima...

1 in Correio da Manhã, 28 de Agosto 2007

A publicidade usa a técnica da repetição sistemática para consolidar os estímulos no cérebro dos consumidores. A repetição torna a mensagem familiar e cria uma ideia de «normalidade» em relação à satisfação do apelo.

A repetição tem efeitos semelhantes no domínio da linguagem. A aprendizagem das línguas assenta, em muito, na audição e vizualização repetida das palavras.

O nosso leitor Álvaro Alapraia escreve-nos e deixa-nos a constatação de que a palavra despoletar se está a generalizar erradamente como sinónimo de desencadear, quando o que a palavra realmente significa é o contrário, ou seja, desactivar, neutralizar. Isto porque espoleta é um dispositivo destinado a fazer explodir carga; espoletar é pôr a espoleta; logo, despoletar é tirar a espoleta, impedindo a explosão.

O que é falar nas entrelinhas? Como é que podemos sugerir algo sem efectivamente dizê-lo? Como é que se faz para dizer alguma coisa implicitamente?

Sugerir é falar sem dizer tudo, é deixar uma lacuna no discurso, que o leitor terá de preencher se quiser interpretar cabalmente o que lhe está a ser dito. Não raro, recorre-se a umas pequenas palavras que ditam a direcção que deve ser tomada nesse trabalho de interpretação.

«Maddie raptada», «Maddie vista ora em Marrocos ora na Bélgica»; «Maddie morta», «Maddie assassinada», «assassinada por…». Tudo tem valido no jornalismo-“bitaites” que se vai lendo e ouvindo, nos últimos dias, à volta do caso da menina inglesa desaparecida na praia da Luz, no Algarve. I...