« (...) Presente na Europa, nas Américas, em África e também na Ásia, o português é visto como uma mais-valia por milhares de chineses, mas também por muitos indianos (...).»
Património identitário e cultural, mas também um trunfo para os membros da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), português tem hoje mais de 260 milhões de falantes e está a conquistar estudantes desde o Senegal até à China.
Os números da língua portuguesa no mundo impressionam, a começar pelos 260 a 270 milhões de falantes, mas continuam a ser os relativos ao ensino do idioma na China os mais significativos para provar a crescente afirmação dos últimos anos como trunfo económico para quem o domina: hoje cerca de cinco mil chineses estudam português em 47 universidades, segundo dados do Instituto Camões. Não escapa aos chineses que o português não só é a quarta língua mais falada no mundo como língua materna (depois do mandarim, do inglês e do espanhol) como duplicará, graças à demografia, o número de falantes até 2100, com Angola e Moçambique, sobretudo, a somarem muitos milhões aos atuais 200 milhões de brasileiros, o maior contingente dos nove países que têm o português como língua oficial. «Uma língua do mundo para o mundo», sublinha o embaixador João Ribeiro de Almeida, presidente do Camões, por ocasião deste segundo 5 de maio como Dia Mundial da Língua Portuguesa, uma distinção da UNESCO a que só tinham direito até 2020 os cinco idiomas oficiais de trabalho das Nações Unidas.
Presente na Europa, nas Américas, em África e também na Ásia, o português é visto como uma mais-valia por milhares de chineses, mas também por muitos indianos, como pode testemunhar pessoalmente Shiv Singh, que, quando jovem, percebeu a vantagem de somar ao inglês outro idioma europeu. «Queria aprender português porque queria aprender uma língua estrangeira e tinha de escolher entre italiano e português. Escolhi português porque os meus veteranos na universidade me sugeriram, mas o português tornou-se um percurso sério quando recebi a bolsa do Instituto Camões para estudar língua e cultura portuguesas na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Apaixonei-me pelo português e o português nunca mais me largou. E fiquei em Lisboa a servir como uma ponte entre a Índia e Portugal», afirma este professor universitário, que vive cá com a família e é autor de um Dicionário de Hindi-Português.
Claro que os grandes volumes de estudantes de Português fora dos nove países da Comunidade de Países de Língua Oficial Portuguesa (CPLP) vêm de países com comunidades de emigrantes como a França, a Suíça ou os Estados Unidos, mas além dos gigantes asiáticos, gigantes populacionais mas também económicos, existem mais alguns casos de verdadeiro sucesso da aprendizagem do idioma que é de Luís Vaz de Camões mas também de Machado de Assis ou de Germano Almeida. E um deles é o Senegal, vizinho da Guiné-Bissau e que no sul tem uma província, Casamansa, que chegou a ser parte do império colonial português. Ora, e de novo os dados são do Camões, «a língua portuguesa é ensinada nas 14 regiões do Senegal, onde o Português é uma disciplina de opção plenamente integrada no sistema do ensino oficial do país, sendo estudado, atualmente, por cerca de 44 mil alunos, dos ensinos médio – 8.º e 9.º anos de escolaridade – e secundário – 10.º, 11.º e 12.º anos de escolaridade. Os estabelecimentos do ensino médio e secundário, público e privado, com ensino de Português ascendem a 200. Existem cerca de 430 professores senegaleses, do Ministério da Educação do Senegal, cuja formação inicial e contínua é apoiada pelo Camões, IP. Nos últimos dez anos, registou-se um crescimento de 150% do número de alunos». Também Espanha surpreende, pois «foram assinados memorandos de entendimento com as regiões autonómicas de fronteira que permitiram a integração curricular da língua portuguesa nos currículos do ensino básico e secundário; 55 mil alunos espanhóis aprendem português, envolvendo o sistema perto de 300 professores». A região mais envolvida é a Extremadura, e isso explica-se por laços culturais mas também pelas oportunidades de trabalho.
«A expansão do português fora do espaço CPLP e da diáspora passa sobretudo pelo sucesso da economia, pelo desenvolvimento dos países de língua portuguesa. Enquanto ela for uma mais-valia para quem a domina, conquistará novos estudantes. As ações do Camões (cor)respondem aos desejos e às necessidades de quem quer ou precisa de aprender português e por isso são tão importantes», realça Margarita Correia, presidente do Conselho Científico do Instituto Internacional da Língua Portuguesa.Língua de cultura, com 53 cátedras espalhadas por países tão diferentes como os Estados Unidos ou a Hungria, o português é também uma língua bem presente no quotidiano, sendo a quinta mais utilizada na internet, com uma taxa de crescimento de quase 2000% entre 2000 e 2017, e é, calcula o Camões, a terceira ou a quarta mais utilizada no Facebook, graças em boa medida aos brasileiros.
Uma das condições que distinguem, aliás, o português de outras línguas muito faladas é ser pluricêntrica. Não só serve de meio de comunicação internacional como a organização que a tutela, e aqui cito Francisco Ribeiro Telles numa recente entrevista ao DN como secretário-geral da CPLP, «não tem um patrão e isso faz a diferença em relação à Commonwealth».
Artigo publicado no Diário de Notícias no dia 5 de maio de 2021.