Quer dizer, é que, obviamente, as pessoas não falam, pronto, a gente não consegue falar sem usar basicamente umas bengalas, ou lá o que é… [Es]tás á ver?
As bengalas linguísticas, também designadas tiques linguísticos ou bordões, são palavras ou expressões usadas como suporte do discurso. As bengalas linguísticas não têm significado, são apenas expressões a que se recorre de forma repetida.
Ó pá, humm, então, uma pessoa quer falar tudo direitinho, naquela, mas é assim, mesmo sem nos apercebermos dizemos ene vezes a mesma palavra, tipo, parece que não há outra. Fogo!
Os bordões têm, contudo, funcionalidades no discurso. Eles surgem sobretudo na oralidade, embora alguns atravessem a fronteira entrando na escrita. São usados para sinalizar a tomada de palavra, também se associam a momentos de hesitação, de necessidade de reformulação discursiva, assinalam o fim do discurso e reforçam a interação.
Ok, então, falar é é é hã, hum hum, a questão é que falar não é fácil. Tipo, está toda a gente a olhar e às vezes põem-se a rir e isso. Pá, se uma pessoa repete palavras, a modos que não dá por nada. Portanto(s), a repetição acontece assim, sem dar por isso. Pronto(s) é isso. N’é?
Um dos problemas dos bordões linguísticos está relacionado com os efeitos que estes produzem nos interlocutores dos textos. A repetição excessiva e cadenciada de uma palavra perturba a transmissão fluente das ideias. Quem ouve acaba por encontrar nos bordões um motivo de distração que dificulta o acompanhamento das ideias. Os bordões desencadeiam, não raro, reações de ironia, de troça e/ou de distanciamento por parte do auditório, comprometendo as intenções do orador. Um texto carregado de hesitações, repetições, não ditos ou ideias incompletas é um mau texto e os seus objetivos dificilmente serão atingidos. A imagem que este passa do orador é a de alguém que não está certo do que diz, que não preparou convenientemente o seu discurso ou que, simplesmente, não sabe falar. É evidente que as razões poderão ser outras, associadas, por exemplo, à tensão causada por falar em público, mas a materialidade do texto pode comprometer a mensagem que se pretende veicular.
Então vá, percebeste que não podes estar sempre a dizer “ó pá”, “evidentemente” ou “de facto”. É isso, sei lá. Porque uma pessoa põe-se a contar os “portantos” dos outros e distrai-se, tipo, não ouve nada. Fogo, até dói. Percebeste? Tipo, não uses bengalas, tás a ver!