«Pronto(s), é assim, mesmo quando não estou nem aí, como quem não quer a coisa, posso incorrer num desse tiques um bocado foleiros, mas isso sou eu, claro está.»
É assim: este é um texto sobre bengalas e tiques linguísticos, tipo, estás a ver, ok, então vá. A situação é um bocado esta, as pessoas, quer dizer, enquanto falam e isso, usam por tique algumas palavras e expressões, que não servem para nada de especial, tipo, habituaram-se a falar assim, e, portanto(s), falam. A modos que, longe de mim querer ofender alguém, porque, ai ai ai, ui ui ui, no melhor pano cai a nódoa, percebes, naquela... Pronto(s), é assim, mesmo quando não estou nem aí, como quem não quer a coisa, posso incorrer num desse tiques um bocado foleiros, mas isso sou eu, claro está. Eu cá na minha maneira de pensar acho que as pessoas usam estas frases, à falta de melhor ideia, numa onda de preguiça mental, tipo: é mais fácil falar assim. Ou seja, uma questão de hábito, porque, alegadamente, as palavras são aos magotes e pronto, dá mais jeito usar apenas algumas que ficam no ouvido; giro. A cena é que, quer dizer, esta é a minha opinião pessoal, ele há frases que se dizem sem pensar e que, digamos, podem ser ditas de outra maneira ou não. Mas, pronto, é mais prático dizer pronto, para pôr o pronto final a uma conversa e dar razão a alguém, só para a malta não se chatear. Estás à vontade.
Então, dizer «é assim» é uma forma de fazer com o outro sintonize – estás-me a acompanhar? – só para chamar a atenção, mas há quem diga é assim um bocado imenso. É totalmente surrealista dizer «um bocado imenso» e não sei quê, tudo e mais alguma coisa é totalmente surrealista para algumas pessoas. Então está bem, como toda a gente sabe, tiques linguísticos é coisa que a todos assiste, hã? Isto não faz qualquer espécie de sentido, na boa, a sério? Eu cá sou daqueles que também tem os seus, mas isso é cá comigo. Não sei se estão a acompanhar a minha linha de raciocínio, mas o que eu quero dizer com isto é que, tipo, alguma destas expressões quando usadas em excesso incomodam mais do que, sei lá, vou ser polémico, um sobrolho nervoso que não para de tremer. Estão a ver o filme? Ora bem, é surrealismo puro, as cenas que as pessoas dizem só por dizer, é de partir o coco a rir, 'tá-se bem, o caraças, até dói. Que stress, já me estou a passar, o texto está quase a chegar ao fim, e eu ainda tenho ene cenas sobre as quais queria escrever e coisa e tal. Só que... olha, para o que me havia de dar, ufa, se a memória não me falha, no meu tempo, tipo, estás a ver, ok, sei lá, pronto, então vá. Percebeste?
Artigo do autor publicado no Jornal de Letras, do dia 9 de março de 2012.