Operação Miríade foi o nome dado pela Unidade Nacional de Combate à Corrupção da Polícia Judiciária, que investiga militares por suspeitas de tráfico de diamantes e ouro em missões na República Centro-Africana, entre outubro de 2017 e março de 2018.
Miríade ou miríada é um quantificador numeral que significa «dez mil», mas que também pode ser usado para referir uma «grande quantidade de coisas em número indeterminado». Trata-se de uma palavra que inclui um radical grego, que já significava «dez mil» ou «relativo a dez mil». Diga-se, a título de curiosidade, que, para os gregos, o maior número existente era a «miríade de miríades».
Miríade é palavra de uso raro e de pronúncia rebuscada. A sua sonoridade é do agrado da literatura e, já no século XIX, Garrett a inscrevia nas suas Viagens na Minha Terra, quando afirmava: «saiu para o vale aberto, frouxamente aclarado já de miríades de estrelas cintilantes no céu azul».
Mas, por vezes, uma mesma palavra vai do céu ao chão. Pena é que palavra tão seleta e tão dada a frases poéticas surja associada ao lodo da corrupção. Pena é que a sua grandeza também sirva para descrever atos de homens arredados de missões nobres. Pena é que aponte para grandezas associadas a atos ilícitos e de pessoas corruptíveis.
Afinal, quem não preferiria que miríade descrevesse apenas o número de estrelas que há no céu?
Áudio disponível aqui:
[AUDIO: Carla Marques - Miríade]
Crónica da professora Carla Marques na sua rubrica emitida no programa Páginas de Português, na Antena 2, no dia 14 de novembro de 2021.