«Ao contrário de muitos neologismos que diariamente são criados, as malabarices já nasceram “naturalizadas”, com grafia, som e significado que não ferem os usos e costumes», escreve Wilton Fonseca, na sua coluna semanal do diário "i", a propósito do mais recente neologismo entrado no léxico político português.
Se por outro motivo as gerações futuras não se lembrarem dele, o primeiro-ministro [português] ficará para sempre ligado à história da língua. Dotou-a de mais um vocábulo, (con)fundido no calor do debate orçamental. Malabarices – a recém-chegada palavra – pode constituir um malabarismo linguístico, mas tem tudo para vingar. Mostra sensibilidade linguística, sentido de oportunidade, veia poética. O seu significado deve ser (não houve quem interrogasse o seu criador sobre o assunto) uma subtil mistura de malabarismo e malandrice, termo este que os dicionários registam e aproximam de malandragem.
«Não faremos malabarices com as cativações», a frase proferida, teria merecido do líder do Bloco de Esquerda um comentário do género «a expressão é própria, adequada e descreve perfeitamente o que se está a passar neste orçamento do Estado». Assim nasceram as malabarices, com a bênção da maioria e do Bloco.
Ao contrário de muitos neologismos que diariamente são criados, as malabarices já nasceram “naturalizadas”, com grafia, som e significado que não ferem os usos e costumes. Os neologismos são admissíveis desde que sejam aportuguesados; podem ser criados em circunstâncias específicas, para dar mais expressividade a uma determinada ideia. Houve um deles que rapidamente ganhou o gosto do público, há alguns anos: todos se recordam do buzinão, não é verdade?
In jornal i, de 18 de novembro de 2011, sob o título original “Neologismos”, na crónica semanal do autor, Ponto do i, que assinala alguns erros na escrita jornalística, em Portugal