No outro dia ouvi um «Passou bem?» dos mais antigos. Tínhamos acabado com os "passôbens" de mão. Será que os "passôbens" de boca iam voltar?
Havia uma boa razão para perguntar «Como está?». A outra pessoa podia não estar bem mas ter vergonha de dizer que estava mal. Por isso é que se seguia o «Passou bem?».
O passar é muito importante. Passamos por esta vida como passamos por tudo. Sobretudo passamos a noite, uma de cada vez. Se tudo e todos estamos de passagem está certo que o verbo que escolhemos para nos cumprimentarmos, para fingirmos que queremos saber uns dos outros, seja passar.
Até podemos não querer saber uns dos outros, mas perguntar fica-nos bem. Quem pergunta «Passou bem?» arrisca-se a ouvir a outra pessoa dizer que não, que não tem passado nada bem.
O que importa não é a sinceridade ou falsidade da pergunta mas, precisamente, o risco que se corre. Uma pergunta aberta é uma forma de respeito. O mecânico «Tudo bem?» (do qual prevejo que teremos grandes saudades daqui a não muitos anos) galga sobre a combinação do «Como está?» e do «Passou bem?», desencorajando uma resposta negativa.
«Tudo bem?» tem a lata de supor que está tudo bem por não ter tempo nem pachorra para ouvir uma resposta sincera. «Tudo bem?» é quase uma ameaça: «Por amor de Deus não me venhas com grandes declarações médico-existenciais, que eu tenho mais que fazer...»
Em contrapartida, a dupla «Como está? Passou bem?» oferece duas oportunidades de confissão pessoal e humana. Há despachar e despachar, há enganar e deixar na dúvida.