O verbo começar formou-se a partir da junção da preposição latina cum ao verbo initiare, o que significa que começar e iniciar partilham traços de sentido associados a “dar começo a algo” ou a “fazer iniciar”. Mas começar pode também significar “fazer a primeira tentativa” ou “ter a primeira experiência” e até “fazer a estreia de algo”.

  Começar implica que algo tem uma origem, um ponto de partida. Começar é comprometer-se a encetar viagem na tarefa a que se vai dar início. Este é sempre um momento mágico porque todo o princípio é inaugural e único: «começar a ir à escola» é colocar os pés no local de ensino e dar início à aprendizagem e à construção do saber; «começar um amor» é colocar os pés no espaço do sentimento e dar início à partilha de projetos e ao desenrolar de um caminho a dois. Começar é o princípio e todo o princípio implica uma caminhada e esforço associados.

 Por vezes, interrompe-se o que se começou e a sua retoma traz o verbo recomeçar, com o significado de «começar de novo». Este sentido fica a dever-se ao prefixo re-, que, neste caso, acrescenta à palavra o sentido de «repetição» ou de «reforço, intensificação». O uso deste verbo sinaliza que já não nos encontramos no princípio, mas que regressámos ao ponto onde ficámos. Recomeçar traz uma força nova, um ímpeto que leva em frente. Por isso, «recomeçar as aulas» é regressar a algo que já se conhece, agora com nova motivação e nova energia; «recomeçar o trabalho» é retomar a atividade com uma vontade nova, com a capacidade de andar mais um pouco, de construir mais e «recomeçar um amor» é introduzir novo fôlego no sentimento e continuar uma caminhada a dois que se interrompeu.  

Recomeçar é ir mais além no caminho que se iniciou. Não é ficar, é ir. Não é parar, é andar. Não é procrastinar, é construir e persistir.

Todos os recomeços trazem sangue novo e fazem o nosso mundo andar. Nem todo o recomeço, porém, vem marcado por uma aura positiva. Há recomeços que evocam males, dores antigas, medos que reaparecem.

Este ano, o recomeço que traz setembro teima em esconder a determinação otimista e auspiciosa. A sombra de uma segunda vaga de covid-19, com todas as consequências a nível sanitário, social e pessoal, retira confiança e força ao recomeço.

Experimentemos fazê-lo com o pé direito, como manda a sabedoria popular, acreditando que tudo vai ficar bem.

(Áudio disponível aqui)