Quem tenha feito, agora por alturas de fim de ano, uma ronda pelos sites de algumas agências de viagens ou tenha folheado algumas revistas de turismo encontrou, de certeza, um grande ajuntamento de palavras como réveillon, champanhe, verve, charme, bon vivant, foie gras, garçon, habitué, etc. Tudo galicismos, ou seja, palavras emprestadas do francês.
Se é certo que o excesso de estrangeirismos pode descaracterizar a língua que os recebe, a verdade é que a importação de palavras e expressões de outras línguas é um fenómeno que contribui decisivamente para o aumento do património lexical da língua de recepção e — acima de tudo — é inevitável.
Agora, desenganem-se os que se preocupam com a actual invasão de termos do inglês, porque o francês, como língua-fonte, não fica atrás. A única atenuante é que os galicismos já estão bem acomodados no português. Por um lado, porque entraram há mais tempo; por outro, porque vieram para referenciar coisas e situações de sectores sociais prestigiados, como a arte, a literatura ou a diplomacia. Do século XVIII ao princípio do século XX, com culminação na Belle Époque, a França conquistou e manteve o estatuto de grande potência e causava grande admiração com o seu passado glorioso. Era um tempo em que todas as capitais europeias queriam ser Paris e a educação das elites era exclusivamente francófila.
Essa influência ficou — no português e noutras línguas — e é particularmente notória quando estão em causa universos de referência que evocam requinte e sofisticação — como, para alguns, a festa da passagem do ano.
Ou então é porque estas festas têm sempre quelque chose de déjà vu.
Artigo publicado no semanário Sol de 5 de Janeiro de 2008, na coluna Ver como Se Diz.