Atentemos na pontuação das seguintes fases:
(1) «O jovem que chegou ontem ficou a descansar.»
(2) «O jovem que chegou ontem, ficou a descansar.»
A questão que estas frases colocam é a seguinte: é correto colocar uma vírgula no final da oração relativa a separá-la do verbo? A resposta é não.
Para compreendermos por que razão esta vírgula não deve ser usada, é importante que se saiba que o sujeito destas frases inclui uma oração relativa, «que chegou ontem».
Ora, as orações relativas podem ter uma de duas funções: ou são explicativas ou são restritivas. Uma oração relativa explicativa tem a função de acrescentar informações à frase principal, informações que não são essenciais à frase e, por isso, podem ser eliminadas. Se a oração relativa da nossa frase for explicativa, ela acrescenta uma informação sobre o jovem», dizendo que ele chegou ontem. Quando isto acontece, a oração deve surgir entre vírgulas: uma no início da oração e outra no final.
Quando a oração é restritiva, esta incide sobre o nome e limita a sua significação. Deste modo, se a oração «que chegou ontem» fosse restritiva, ao incidir sobre «jovem», levaria a que não se falasse de um jovem qualquer, mas em concreto daquele que chegou ontem. Neste caso, a oração não leva qualquer vírgula.
Em síntese, uma oração relativa que restringe o significado do nome ao qual se junta não leva vírgulas. Se a oração apenas fornecer explicações adicionais sobre o nome, surge entre vírgulas. E nunca se usa apenas uma vírgula em final de oração relativa.
Áudio disponível aqui:
[AUDIO: Carla Marques_Vírgulas nas relativas]
Apontamento incluído no programa Páginas de Português, na Antena 2, no dia 8 de janeiro de 2022.