No site dt.dge.mec.pt, encontramos o Dicionário Terminológico (DT), criado em 2008 para regular e uniformizar a terminologia linguística/gramatical no contexto educativo em Portugal – escolas, livros didáticos, exames.
Já a nossa NGB (Nomenclatura Gramatical Brasileira), de 1959, apresenta uma terminologia diferente em alguns pontos da do outro lado do Atlântico, de modo que um aluno brasileiro que estuda no ensino básico em Portugal precisa se adaptar também a isso.
Não é nada tão surreal, mas as diferenças existem, sobretudo quando comparamos os livros didáticos verde-amarelos com os verde-rubros.
Para não esgotar o assunto – mas vale a consulta dos dois documentos –, vou me apegar ao sumário de dois livros didáticos para mostrar as diferenças de conteúdo geral e as diferenças de nomenclatura morfossintática:
PE: Gramática do Português: Ensino Secundário (2016), de Clara Amorim e Catarina Sousa.
PB: Gramática da Língua Portuguesa: Ensino Médio (2014), de Roberto Melo Mesquita.
Importante: certos assuntos que há (ou não há) num e noutro livro podem constar de outros livros didáticos não analisados nesta postagem; mas escolhi essas duas obras por verificar que elas reúnem as características principais de uma gramática escolar.
DIFERENÇAS DE CONTEÚDO GERAL
PE
No sumário, há um capítulo chamado "Dimensão Pragmática da Língua", em que se estudam os conceitos de enunciação e discurso, dêixis, atos de fala, máximas conversacionais, tipos de discurso etc.
Também há um capítulo destinado ao texto, em que se estudam os conceitos de textualidade, coesão textual, coerência, tipologia textual etc.
Na parte de semântica (lexical e frásica), contemplam-se na segunda os conceitos de referência, predicação, polaridade, especificidade, genericidade (conteúdo proposicional); anterioridade, simultaneidade, posterioridade (valor temporal); aspeto lexical, aspeto gramatical, classes aspetuais (valor aspetual); tipos de modalidade (epistémica, deôntica, apreciativa); etc.
PB
Há um capítulo destinado às funções da linguagem.
Há um capítulo que trata do emprego do acento grave (crase).
Há um capítulo só de pontuação.
Há um capítulo só de concordância (verbal e nominal).
Há um capítulo só de regência (verbal e nominal.
Há um capítulo só de colocação pronominal.
DIFERENÇAS DE TERMINOLOGIA MORFOSSINTÁTICA
PE
Na parte de classes de palavras (ou classes gramaticais), há 10: nome, verbo, adjetivo, advérbio, interjeição, pronome, determinante, quantificador, preposição, conjunção.
PB
Na parte de classes de palavras (ou classes gramaticais), há 10: substantivo, adjetivo, artigo, numeral, pronome, verbo, advérbio, preposição, conjunção, interjeição.
Note que nome é substantivo, mas determinante (artigo, demonstrativo, possessivo, indefinido, relativo, interrogativo) corresponde ao artigo e aos pronomes adjetivos (demonstrativos, possessivos, indefinidos, relativos, interrogativos).
PE
Na parte de sintaxe, há a explicitação dos diferentes tipos de sintagma; também há alguns termos sintáticos denominados modificador (da frase, do verbo, do nome [restritivo ou apositivo], do adjetivo) e complemento (direto, indireto, oblíquo, agente da passiva). Também há os conceitos de frase simples, frase complexa, oração coordenada copulativa, disjuntiva, oração subordinada substantiva completiva, oração subordinada substantiva relativa; no caso das subordinadas adverbiais, só há 7: causal, final, temporal, concessiva, condicional, comparativa, consecutiva.
PB
Não se fala de sintagma no livro didático brasileiro. Quanto ao conceito de modificador da frase, do verbo, do nome [restritivo ou apositivo], do adjetivo, isso equivale ao adjunto adverbial (modificador da frase, do verbo e do adjetivo), ao adjunto adnominal (modificador do nome) e ao aposto (modificador apositivo). Quanto aos complementos direto, indireto, oblíquo e agente da passiva, isso corresponde ao objeto direto (complemento direto), objeto indireto (complemento indireto e complemento oblíquo), adjunto adverbial (complemento oblíquo, quando tem valor circunstancial) e agente da passiva (complemento agente da passiva). Quanto às frases simples e complexas, isso corresponde aos períodos simples e composto. Quanto às orações coordenadas copulativas e disjuntivas, equivalem às orações coordenadas sindéticas aditivas e alternativas. Quanto às subordinadas substantivas completivas, equivalem às orações subordinadas substantivas objetiva direta e completiva nominal; já as subordinadas substantivas relativas equivalem às subordinadas substantivas justapostas. No caso do Brasil, há 9 orações subordinadas adverbiais — além das 7 mencionadas na parte de Portugal, há as conformativas e as proporcionais.
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É claro que há mais uma ou outra diferença aqui e ali de nomenclatura e de abordagem. Mas creio ter feito uma razoável síntese das mais evidentes diferenças. Caberá ao professor (do Brasil e de Portugal), se necessário, apresentar explicações mais detalhadas e exemplos que ilustrem as diferentes classificações mencionadas neste texto.