Uma família brasileira se muda para Portugal com um filho de 11 anos de idade.
Esse menino é posto numa escola pública no 2.º ciclo, que compreende os anos finais do ensino fundamental no Brasil.
Sua maneira de usar a língua portuguesa é diferente da maneira como seus colegas e professores a usam, o que pode gerar um desconforto inicial entre todos.
Mais do que isso: neste momento, seu professor de língua portuguesa encontra-se num dilema:
1) Ensinar exclusivamente a norma-padrão lusitana e cobrar desse aluno que passe a empregá-la, sob pena de sofrer sanção se usar a variedade brasileira em contextos de trabalhos orais ou se usar em sua escrita construções linguísticas típicas da norma-padrão do português brasileiro.
2) Ensinar a norma-padrão lusitana e a brasileira (cujas diferenças são bem pontuais), cobrando desse aluno que, ao menos, escreva rigorosamente de acordo com uma dessas normas em situações monitoradas de comunicação, sem que ele sofra sanção por isso.
Parece-me que a segunda opção seja a mais democrática e verdadeiramente inclusiva. O que você acha?
Sendo esta a escolha do corpo docente escolar após responsável deliberação, inevitavelmente todos os professores da escola terão de passar por um curso formativo visando à sua capacitação nesse ponto.
Mas como seria tal curso?
Nada complexo: penso que 10 encontros, com duas horas de duração cada um, ministrado por um professor/linguista brasileiro competente, verdadeiramente técnico e desprovido de enviesamento político-ideológico, sejam mais do que suficientes para tratar das questões pertinentes ao tema.
Ao fim desse processo, todo o corpo docente da escola – não só os professores de Português, e isto é importante! – estará preparado para lidar com as questões convergentes de "unidade" linguística e com as questões plurais de "diversidade" linguística. Desse modo, a escola passará a se tornar um ambiente ainda mais saudável, de compreensão e respeito mútuos.
Talvez alguns professores sejam mais reticentes do que outros – mas, ao fim e ao cabo, os mestres existem para formar bons alunos, e isso inclui respeitar e valorizar as diferenças (que, reitero, são bem poucas quando tratamos de norma-padrão lusitana e brasileira).
Se o aluno brasileiro for abraçado pelos docentes portugueses nesse contexto escolar, certamente respeitará e valorizará igualmente a sua cultura, fazendo com que a diversidade não se torne um obstáculo de interação linguístico-cultural, e sim uma força agregadora – afinal, nossos países (Brasil e Portugal) têm uma profunda relação cultural e (creio) a maioria deseja manter esse bom relacionamento de unidade na diversidade, eliminando-se eventuais rusgas, para que o bem comum seja tão somente a plena formação civil do nosso aluno.