«Será que o ensino tradicional falha redondamente na ação de melhorar competências de uso da língua?»
Apesar das várias tentativas e propostas teóricas para alterar o ensino da gramática, fazendo com que ela esteja implicada nas atividades de leitura e escrita a levar a cabo pelos alunos, a verdade é que é o ensino tradicional que vigora. Sabemo-lo pela análise de manuais escolares e de perguntas de exame do Instituto de Avaliação Educativa (IAVE). O ensino tradicional é aquele que assenta na apresentação de terminologia e princípios que governam o uso padrão da língua, acompanhada de exemplos isolados, a que se segue a realização de uma bateria de exercícios de aplicação. Este ensino tradicional foi, portanto, imune a teorias que propõem o ensino da gramática através de um modelo indutivo, em que é o aluno que vai descobrindo padrões e regularidades na língua. Mas o ensino tradicional foi também indiferente a outro tipo de teorias: as teorias que advogam que se estude o mínimo de gramática pelo máximo de benefícios, ou seja, teorias que propõem estudar-se apenas a gramática quando há bloqueios na leitura ou na escrita.
Estas teorias pressupõem que o ensino tradicional da gramática poucos ou nenhuns ganhos traz para os desempenhos comunicativos dos alunos. Mas será que é mesmo assim? Será que o ensino tradicional falha redondamente na ação de melhorar competências de uso da língua?
Para responder, ainda que parcialmente, a esta questão, desenvolvi um estudo em três escolas públicas do país, nos distritos do Porto e Viseu, envolvendo 120 alunos. O estudo visava várias tarefas de reescrita nas quais os alunos, indiretamente, tinham de fazer uso de alguns conhecimentos sobre derivação. Os 120 alunos foram divididos em dois grupos. No grupo em que a derivação foi trabalhada, pelo modelo tradicional, houve um ganho em média de quase um valor; o grupo que fez as tarefas de reescrita sem previamente ter estudado a derivação apresentou resultados com um diferencial negativo.
Apesar de estes resultados não apresentarem uma diferença muito acentuada entre um grupo e outro, eles são, ainda assim, significativos e sugerem que os alunos beneficiam da exposição a um enquadramento estruturado de fenómenos linguísticos. O principal objetivo de estudos como estes é frisar que qualquer alteração que se queira implementar no ensino deverá partir dos resultados das práticas que estão há décadas no terreno, e não da assunção apriorística de que o que está está 100% mal.