Antologia // Portugal Vozes de comando Sendo a linguagem pintura do pensamento, e, como tal, objecto de arte e de gosto, não podia deixar de participar do espírito, do génio e do pensar do povo que a fala; assim como este mesmo, em todas as referidas cousas, depende inquestionavelmente da natureza da região que habita, do conspecto do solo e das influências de um astro mais ou menos benigno. (...) Francisco Evaristo Leoni · 24 de abril de 1998 · 6K
Controvérsias 1 - Obrigado, obrigada O artigo publicado no jornal "Expresso", no dia 4 do corrente, sob o título "A incerteza em linha" (Cartaz, Actual), em que sou mencionado, sugere-me algumas considerações. A primeira, e seguindo a ordem do texto, é acerca do uso de obrigado, -a, -os, -as; o seu autor escreve: «Sempre foi normal um homem dizer "obrigada", e é vulgaríssimo ouvir-se a uma senhora "obrigado".» Contesto: não é "normal" um homem dizer "obrigada", é apenas ... F. V. Peixoto da Fonseca (1922-2010) · 22 de abril de 1998 · 12K
Pelourinho Uma prestação imprestável Prestação, do latim "praestatione": acto ou efeito de prestar; cota, contribuição, pagamento escalonado. Ou, quando muito (no Brasil): alcunha de todo o vendedor ambulante de mercadorias a prestações. Isto é o que registam os dicionários, o que dirá qualquer lusofalante, independentemente do seu nível cultural, a não ser que tenha aderido ao chamado "futebolês" e repita esse estereótipo, mais um, tanto ao gosto do me... José Mário Costa · 22 de abril de 1998 · 5K
Antologia // Brasil Estudo da Língua Pátria Não te contentes (…) com as noções elementares deste compêndio (1); sirvam-te somente de guia para leres os bons autores, que desde 1500 fixaram e aperfeiçoaram a língua, e começaram a escrever tão cultamente, ao menos os seus dramas, como os Italianos, que primeiro o fizeram na Europa moderna, antes que os Franceses, Ingleses e outros tivessem poetas correctos e elegantes, nem historiadores e oradores dignos de se lerem, como os nossos Castanheda, Barros, Couto, António Pinto Pereira, Lucena... António de Morais Silva · 17 de abril de 1998 · 4K
Controvérsias Os sem-terra e não os sem-terras Uma das dificuldades da nossa língua provém do facto de ela não ter uma lógica geral. São várias lógicas que se misturam e, muitas vezes, chegam a ser conflitantes. Desde o plural de mão não ser «mães» até a possibilidade de se utilizar majoritário e maioritário ou a evolução do «planum» latino para chão e plano, cada palavra tem a sua história, marcada pela origem histórica e condicionalismos regionalistas. Não adianta tentar encontrar um fio único para interpretar a língua portuguesa, que s... Amílcar Caffé · 14 de abril de 1998 · 2K
Controvérsias Os sem-terras e não os sem-terra Quanto ao plural do substantivo composto «sem-terra», venho manifestar minha discordância da opinião emitida pelo nobre professor Amílcar Caffé. A meu ver, um neologismo deve, justamente por ser um neologismo, sujeitar-se mais ainda às regras gramaticais, e não ser incluído de imediato no rol das exceções. Isso torna mais simples o bom uso da língua. A par disso, o acréscimo do "s" é o indicativo natural para a formação do plural na língua portuguesa. Não deixam de soar estranhas (porq... Fernando Bueno · 14 de abril de 1998 · 3K
Antologia // Portugal Dicções antigas Em tempo de el-rei D. Afonso Henriques capapelle era nome de uma certa vestidura; e não somente de tanto tempo, mas também antes de nós um pouco, nossos pais tinham algumas palavras que já não são agora ouvidas, como compengar, que queria dizer comer o pão com a outra vianda; e neminchalda, o qual tanto valia como agora nemigalha (1), segundo se declarou poucos dias há uma velha que por isto foi preguntada, dizendo ela esta palavra. E, era a velha a este tem... Fernão de Oliveira · 9 de abril de 1998 · 3K
Controvérsias A incerteza em linha No «Alfa» para o Porto, o revisor, ar compenetrado mas afável, vem verificar o bilhete. Devolve-lho com um «Muito obrigado», uma cortesia que só fica bem à empresa. No banco ao lado, segue uma senhora. Ao entregar-lhe o bilhete, o revisor diz: «Muito obrigada». Um casal mais à frente receberá do revisor um convicto «Muito obrigados». O viajante ainda pensou armar-lhe uma espera, a instruí-lo, mas hoje prefere imaginar que, todos os dias, anda um senhor revisor, país acima país abaixo, adaptan... Fernando Venâncio (1944-2025) · 8 de abril de 1998 · 5K
Controvérsias A Língua Portuguesa, a Internet, o este e o esse Estou muito agradecido ao consulente a quem a minha resposta sobre estas palavras não satisfez completamente. E agradeço a todos os que me apresentam objecções e/ou discordam, porque é com estes que aprendo: fazem-me sentir e pensar, e é pensando e sentindo que trabalho e aprendo. Os outros, os inteiramente concordantes, apenas me alegram por eu ter sido útil ao próximo; e por isso a eles me sinto grato, quando me comunicam a sua satisfação. Mas uma coisa é eu sentir-me alegre; outra, o senti... José Neves Henriques (1916-2008) · 8 de abril de 1998 · 4K
Controvérsias 2 – «...para esta página»= «...para essa página» Apesar de concordar com a explicação dada por José Neves Henriques à questão «esse» versus «este», a mim também assaltam as dúvidas quanto à utilização no caso da tradução "site"/página. O consulente escreveu para a página que estava à sua frente no computador – assim como estaria à frente de uma pessoa do outro lado do mundo. Portanto, escreveu para esta página – em substituição de para os responsáveis pela página em questão –, por uma questão de proximidade. Mas também p... Amílcar Caffé · 8 de abril de 1998 · 3K