Português na 1.ª pessoa - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
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Num país onde quase nada de mérito se faz e onde 95% da população só lê jornais desportivos (passe o exagero), está na moda "botar-abaixo" o esforço e trabalho digno da equipa da Academia das Ciências de Lisboa... Gostaria de saber quem mais se dedicaria a produzir este dicionário com um sacrifício pessoal de 12 anos consecutivos. Em minha opinião, antes o que ficou feito, do que nada fazer!!

Há duas semanas, neste mesmo espaço, era assim que eu terminava o meu artigo a propósito do novo Dicionário da Academia : "O que me custa a entender é que um dicionário que levou mais de dois séculos para ser parido – não tenha resistido à tentação de, num fechar de olhos, apressadamente, como quem não quer a coisa, impor aos cidadãos formas de palavras que não sabemos se algum dia virão a ser aceites pelo organismo vivo que se chama Língua Portuguesa – a qual, se assim o entender, se ...

Um retrato da língua
O papel dos dicionários

«Fazer o dicionário de uma língua viva – escreve neste artigo o filógo e político português Luiz Fagundes Duarte –é como tirar o retrato a uma pessoa: apanha-se-lhe o que ela é naquele momento, mas também se lhe apanha uma ruga que se forma, um gesto suspenso, um brilho furtivo do olhar, um acto falhado.»

*in jornal Açoriano Oriental

«O meu sentimento, como é natural, é de um grande reconhecimento e de agradecimento à decisão que o senhor Presidente da República tomou em querer-me agraciar.» 1

 

Nesta frase há dois aspectos a considerar: primeiro, não se agradece a uma decisão, agradece-se a alguém; segundo, o pronome se deverá estar ligado ao verbo ao qual diz respeito (agraciar), e não ao auxiliar (querer).

 

Outra construção incorrecta muito ouvida agora também por causa da cobertura noticiosa do Campeonato [Copa] do Mundo de Futebol, esta um castelhanismo puro, é a troca da preposição de pela preposição desde em situações relacionadas com determinado lugar onde se está, circunstancialmente. Tipo: «Estamos a transmitir (ou a emitir, ou a falar, etc.) desde a Alemanha.»

Não é «“desde” a Alemanha», é «da Alemanha».

Cf. Disparatado desde + Desde

Além da Serenella Andrade, o que há de estranho na extracção da lotaria? Resposta: a patusca invenção das "dezenas de milhar", apensa a uma das redomas do sorteio. Apesar de a ninguém lembrar dizer "dúzias de ovo" ou "centenas de ano", a coisa anda por todo o lado: em acórdãos de tribunais, documentos de universidades, discursos presidenciais, entradas da Wikipedia, etc. E neste «etc.» até cabem blogues por norma bem-falantes. Ele há epidemias bem esquisitas.


           «À primeira vista é difícil de distinguir o anúncio do Pingo Doce com o DVD dos Gato Fedorento»1 A frase deveria ter sido assim construída: «À primeira vista é difícil...

     A Êispu 98 está a ser um êxito: os políticos e os jornalistas da televisão portuguesa gostam tanto dela, que já encontraram formas personalizadas de lhe pronunciar a abreviatura. Cada um tem a dele! No jornal das 22 horas da TV2, na quinta-feira, a jornalista Isabel Silva Costa abriu bem o «concurso», com Êis... mas concluiu-o mal, com . A ...

Com a ênfase própria da SIC, o «narrador» anunciou que o canal do dr. Balsemão estava a transmitir o Barcelona-Real Madrid «desde» o Camp Nou, na capital da Catalunha. Assim utilizada, a preposição «desde» é um castelhanismo dispensável, mas muito apreciado pelos profissionais da rádio e televisão. Fere o ouvido. Sobretudo quando «nós», «narradores», estamos a fazer os comentários em Carnaxide.

Despoletar

No Telejornal da RTP1 de 25 de Janeiro, o redactor de serviço utilizou o verbo despoletar para dizer precisamente o contrário do que pretendia. Despoletar um escândalo (na circunstância, os casos de pedofilia na Madeira) significa desactivá-lo, anulá-lo. Espoleta é o disparado...